São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Transferência para países 'exóticos' apresenta riscos

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado internacional do futebol cresce a cada ano para os jogadores brasileiros. Em 96, a Confederação Brasileira de Futebol registrou 381 transferências para o exterior. É o maior número desde 1992, quando esses dados passaram a ser informatizados, e provavelmente da história.
Mas a vida desses jogadores está bem longe da que leva o atacante Ronaldinho, que recebe salários de US$ 5 milhões por ano.
A maioria, como no Brasil, enfrenta problemas. Mas fora, eles vão muito além da falta de dinheiro.
O zagueiro Alexandre Augusto Stella, 28, que se profissionalizou no Palmeiras e ajudou vários times paulistas a subir para a série A-1, tentou em 96 a sorte no futebol da Tunísia, no norte da África.
E, segundo ele, teve sorte de sair vivo de lá.
Mesmo filho uma família de classe média -o pai é gerente aposentado de banco estatal e hoje dono de três pequenas indústrias-, Alexandre não percebeu que estava entrando numa fria.
Conta que o empresário que o levou -não diz o nome- não o avisou da violência religiosa naquele país muçulmano.
"Quando cheguei, liguei para a Embaixada e me avisaram que um dia antes, uma bomba destruíra parte de um bar perto do meu hotel, matando três turistas. Fui aconselhado a nunca sair e mudar de quarto a cada três dias."
"Mas no primeiro coletivo, fiz o sinal-da-cruz ao entrar em campo e a torcida me marcou."
No dia de seu primeiro -e único jogo-, a revolta dos torcedores contra ele era tal que a polícia montou um esquema de segurança especial.
"Joguei com medo de morrer. No final, procurei os dirigentes e disse que ia embora."
Para ir, devolveu todo o dinheiro que recebeu de luvas. "Meu empresário tentou me convencer a ficar, pois não havia recebido nada."
Jorge Machado, empresário gaúcho que negociou transferências de jogadores famosos como Flávio Conceição, Rivaldo (ex-Palmeiras), Leandro (ex-Inter) e Adílson (ex-Grêmio), ataca a atuação de alguns colegas.
"Tem gente que compra um celular e acha que virou empresário. É preciso ter condições financeiras para trabalhar nesse ramo."
E são esses os empresários que mais fazem negócios.
"O mercado está se abrindo muito na Ásia, especialmente, China, Coréia do Sul, Indonésia, Hong Kong e Cingapura", afirma Robério Lopes, ex-jogador e hoje uma das pessoas que mais leva jogadores para Portugal, especialmente para times de segunda e terceira divisões.
Mas mesmo Lopes, que não trabalha com jogadores de seleção, evita negócios com certos países.
"Os jogadores estão para lá para ganhar até US$ 10 mil por mês. Não me interessa entrar nesse mercado."
Mas há exceções. Desde 1995, vários jogadores têm ido para a Indonésia partindo do Barreira, de Bacaxá (RJ), clube controlado pela Reinaldo Pitta e Alexandre Martins, que controlam os negócios de Ronaldinho.
(MD)

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