São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Salário mínimo é regra em Roraima

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O meia Chiquinho, do São Raimundo de Boa Vista, é o retrato do jogador profissional de Roraima.
Recebe um salário-mínimo por mês para jogar. Quando não está em campo, trabalha no setor de informações da Polícial Civil, onde ganha R$ 650,00. Ao sair do trabalho, todo final da tarde, tem que correr para não perder o treino.
Todos os 108 atletas profissionais do Estado têm contrato de um salário-mínimo.
"Isso pode até nos motivar, é um obstáculo a mais a superar até nos tornarmos grandes", diz Chiquinho.
Mas este dia ainda está longe de chegar. Último Estado do país a adotar o profissionalismo no futebol, em 1995, Roraima realiza este ano seu terceiro Campeonato Estadual, com seis clubes. Território Federal até 1990, praticamente não possui indústrias e os times são mantidos com ajuda do governo e de torcedores ricos.
Cerca de 15% dos jogadores, segundo apurou a Folha, recebem um pouco além dos R$ 112,00 registrados em contrato, como uma forma de driblar o INSS.
É o caso do zagueiro Dudu e do atacante Tangará, contratados recentemente pelo Baré, clube da elite de Boa Vista. Com salários de R$ 600,00 mensais, são os jogadores mais bem pagos do Estado.
"Bom é o salário do Romário, do Edmundo. O meu pode ser razoável para onde estou, mas mesmo assim é pouco", diz Tangará.
Os salários de Dudu e Tangará são pagos pelo vice-governador de Roraima, Airton Cascavel (PPB).
"Sou fanático por futebol e quero ver meu Estado crescer no esporte", diz. Torcedor do Progresso de Mucajaí, cidade da qual já foi prefeito, Cascavel também ajuda todo mês o seu clube de coração, doando uniforme, equipamentos e transporte. Afirma gastar cerca de R$ 4.500,00 mensais com as contribuições aos dois clubes.
Propietário de uma empresa de ônibus, diz que, nesses casos, as colaborações não envolvem dinheiro do Estado: "É um incentivo da pessoa física, do cidadão."
O pagamento de "bichos" (prêmios em caso de vitória) inexiste em Roraima. Qualquer gratificação além do salário é ocasional. "De acordo com a renda a gente paga um almoço, uma conta", diz o presidente do Progresso, Simpliciano Barros.
Essa realidade leva a maioria dos atletas a buscar outro emprego -geralmente em órgãos públicos. O meia Charuto, do Rio Negro, é professor estadual; o volante Teca, do Baré, é agente administrativo da Sunab; além de Chiquinho, mais seis jogadores do São Raimundo trabalham na Polícia Civil.
Para conseguir reunir os jogadores, os clubes realizam os treinos ao raiar do dia, às 5h30, e no final da tarde, às 17:30.
"O que acontece aqui não é profissionalismo. Não há condições de trabalho, não há campos bons, faltam material e bons treinadores", diz o meia Gérson, do Baré.
Mais otimista, seu irmão Teca, volante do mesmo time, acha que ganhar pouco não o faz menos profissional."É uma missão nossa tornar o futebol roraimense conhecido em todo o Brasil, e esse é o preço que estamos pagando".

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