São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997 |
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Gabriel Villela estréia no mundo da moda
JACKSON ARAUJO
* Folha - Como é este trabalho para a Patachou? Gabriel Villela - Tem um dado surpresa que eu não vou contar. Mas antes de tudo ele foi pensado a partir da cartela de cores da coleção, que é inspirada nas procissões e liturgias religiosas de rua de cidades como Ouro Preto. Em comum a isso tem a estética do barroco, que trabalho no teatro. A Patachou não quer uma concepção teatral, mas uma coisa que fizesse sentido para apresentar a coleção. Uma verdade cultural. O que vai acontecer é um desfile extremamente simples, em que as modelos vão desfilar em cima de serragem e flores características das procissões. Folha - Como sua estética está agregada a este trabalho? Villela - Sobretudo este condicionamento à cultura mineira, este conceito de diferenciar mineirice, tudo o que é pejorativo, da mineiridade, que é a indústria cultural das raízes. O que acho mais bonito é a Patachou buscar a referência cromática dentro do Brasil, numa manifestação que acontece nas ruas. A moda dela é uma moda de rua e, de repente, poder tirar tudo do chão é maravilhoso. O trabalho é delicado, artesanal, carinhoso. Tento reproduzir no chão, na serragem, as cores da cartela. Folha - Você se importa com a moda? Villela - Se eu disser que não, estou sendo hipócrita. Na moda, estão implícitas as tendências comportamentais e psicológicas da sociedade. Como artista, se eu não observar isso, acabo ficando defasado. Nela, tem todos os arquétipos do mundo. A moda é cíclica e dinâmica. E o fato de ela ser dinâmica é porque o homem muda de cara a cada estação. Eu não sei me vestir. Só uso botinas e calça jeans. Admiro os estilistas, pois são parabólicas de tudo o que está acontecendo com o homem. Saí da Patachou na primeira reunião em frequência com o mundo. A moda não é fútil como se pensa por aí. Às vezes ela veste uma caixa d'água vazia -o que é que a gente pode fazer? Mas às vezes veste um tonel de carvalho com o melhor malte escocês. Aí sim ela tem conteúdo. Os estilistas são tentáculos de sensibilidade que captam a evolução do homem. Folha - Que roupa você está vestindo agora? Villela - Você quer saber mesmo? (risos) Estou na cama, de cueca Calvin Klein. Folha - Você acha que existe preconceito da chamada elite intelectual em relação à moda? Villela - Não sei, pois não faço parte dela. Posso até ser um produto dela. A elite intelectual é insuportável a qualquer tema. Como nunca liguei para ela... Mas há uma discriminação, sim. No MorumbiFashion, por exemplo, quando fui ver a sala do desfile, disse para uma pessoa da organização que eu era mineiro. E ela perguntou: "Cadê o pão de queijo?" Ele não é intelectual, mas também tem preconceito. Por outro lado, a intelectualidade tem capacidade de entender estes tentáculos que, por sua vez, alegorizam, materializam e personificam as tendências psicológicas do ser humano. Folha - Você acredita em moda brasileira? Villela - Acredito em tudo o que é brasileiro. Mais que isso: acredito que o Brasil está na moda. Lamentavelmente, está na moda não só pelo lado maravilhoso, mas também pelo seu lado trágico. O Brasil vai deixar de ser modismo e vai ser sinônimo de modernismo para todo o mundo. Texto Anterior: Sindicato culpa demissão de equipe técnica Próximo Texto: Herchcovitch segue imagem de uma viúva Índice |
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