São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
Próximo Texto | Índice

CEF já tem 20 mil imóveis retomados

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O total de imóveis em poder da Caixa Econômica Federal (CEF), retomados por falta de pagamento, cresceu 70,9% em 96. O estoque passou de 11,65 mil para 19,92 mil.
Esse número equivale a 62% do total de contratos de financiamento fechados pela CEF no ano passado pelo sistema Procred: 32,1 mil unidades. Os demais agentes financiaram 38,2 mil unidades, conforme dados do Banco Central.
Apesar de o estoque de quase 20 mil imóveis ser pouco expressivo em relação a todos os contratos de financiamento imobiliário administrados pela CEF, algo em torno de 1,2 milhão, sua evolução não deixa de ser indicador da maior inadimplência após o Plano Real.
Em 1992/93, o estoque da CEF, basicamente de imóveis residenciais, estava em torno de 6,7 mil unidades (ver gráfico ao lado). Em 96, entraram 8,78 mil.
Revenda lenta
Defasagem salarial em relação ao valor da prestação e desemprego, principalmente, explicam a inadimplência e o salto no estoque.
Mas o estoque cresce, também, porque a revenda de casas e apartamentos nessa situação não acompanha o ritmo da chamada adjudicação (quando o imóvel é arrematado pela CEF e incorporado a seu patrimônio, depois de frustrada a tentativa de leiloá-lo).
Nos últimos cinco anos, em apenas dois deles, 1992 e 1995, a CEF vendeu mais imóveis adjudicados do que recebeu. Em 96, entraram os 8,78 mil e saíram apenas 2,4 mil.
Pelo valor médio dos imóveis revendidos pela CEF de 92 a 96, entre R$ 9 mil e R$ 18 mil, nota-se que a maioria deles tem perfil popular.
Os novos interessados nesses imóveis não têm poupança própria para pagar à vista e nem sempre conseguem comprovar renda para financiá-los na própria CEF.
Muitos imóveis também são licitados com o antigo mutuário dentro. Assim, cabe ao novo comprador entrar com uma ação judicial de reintegração de posse.
Outro problema é o estado dos imóveis, dizem advogados da área imobiliária e técnicos da CEF. Quando o antigo mutuário percebe que vai perder a moradia, deixa de conservá-la e às vezes até provoca estragos nas instalações.
Preço mínimo
Nos dois primeiros leilões, antes que o imóvel entre em licitação pública na CEF, o preço mínimo é pelo saldo devedor deixado pelo mutuário original. A revenda é difícil porque, em geral, a dívida está bem acima do preço de mercado.
Depois, na fase de concorrência pública, normas da CEF mandam que seja fixada como preço mínimo a média entre o saldo devedor e o valor da avaliação, mas ainda assim é comum a CEF não conseguir vender ou financiar o imóvel.
A Folha apurou que, em conjuntos imobiliários muito problemáticos, o preço mínimo pode ser o de mercado, inferior à média, pois, do contrário, não há como a CEF "desovar" o estoque.
Mas a revenda -à vista ou financiada- pelo valor de mercado não é praxe porque a diferença em relação ao antigo saldo devedor é lançada nos livros como prejuízo.
Embora a retomada do imóvel ocorra quando a falta de pagamento supera 90 dias, há sempre alguma flexibilidade e tentativas de renegociação, afirmam executivos de bancos e técnicos da CEF.
A fama do sistema bancário não é boa, admitem, mas a realidade é que os agentes resistem à retomada porque temem se transformar numa grande "imobiliária".
Na CEF, apurou a Folha, o problema é mais grave devido à herança deixada pelo uso político da instituição em gestões passadas.

LEIA MAIS sobre retomada de imóveis na pág. 2-11

Próximo Texto: Buraco menor; Nosso bolso; Corte cívico; Olhando as contas; Grãos em alta; Pressão de cima; Concentrando; Ganhando escala; Para cachorro; Nem o mínimo; Perdendo o ano; Má companhia; Megaevento; In loco; Queda-de-braço; Envelhecendo; Nova tentativa; Sem pedágio; Fertilizando as vendas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.