São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Cafeicultor perde bom momento do preço

CLÁUDIO EUGÊNIO
ENVIADO ESPECIAL A FRANCA (SP) E GUAXUPÉ (MG)

Os produtores brasileiros de café olham a alta das cotações do produto com o mesmo desalento do apostador que teria ganho na loteria, não fosse o fato de os números sorteados estarem no bilhete da semana anterior.
Em sua maioria, os produtores venderam o café antes do salto de quase 60% nos preços desde o final do ano passado.
Alguns não previram a alta. Outros sim, mas, pressionados por dívidas, venderam logo. Quase todos deixaram de ganhar.
O clima de desalento foi constatado pela reportagem da Folha, na semana passada, ao percorrer algumas das principais fazendas produtoras de café e cooperativas na região da Alta Mogiana, no Nordeste de São Paulo, e de Guaxupé, no Sul de Minas Gerais.
Como não adianta chorar o café derramado, os cafeicultores olham para frente. O horizonte é daqui a quatro meses, quando começa a próxima safra. A esperança é que as cotações resistam.
Vários fatores explicam a alta. Entre eles, a queda nos estoques dos principais países consumidores e problemas de colheita na Colômbia, segundo maior produtor mundial.
Nas principais regiões produtoras do país já se fala no retorno dos investimentos.
Momento certo
Em Minas Gerais, maior produtor nacional, está grande parte dos produtores que seguraram a safra.
Atentos diariamente às cotações externas, os produtores ligam-se "on line" às Bolsas de Nova York e de Londres, via cooperativas.
José de Castro Sobrinho, pequeno produtor de Guaxupé, teve sorte. Das 200 sacas produzidas no ano passado, 120 foram vendidas ao preço médio de R$ 100,00.
Na quarta-feira ele estava na cooperativa para negociar as 80 sacas restantes que tiveram sua cotação valorizada em 100%.
Agora, com o que conseguiu com a venda do restante da safra, pretende reformar ou trocar o trator por um mais novo.
O presidente da Cooxupé, Isaac Ferreira Leite, não está tão otimista com o futuro.
"A cafeicultura nacional tem uma dívida que vem se acumulando desde 1990. Em 94, com a geada e a seca, a situação se agravou. Poucos produtores ganharam dinheiro com a subida das cotações", explica ele.
A busca da automação, onde for possível, e a redução dos custos são as metas a serem atingidas pelo setor, diz ele.
"Temos de entrar em um regime competitivo, com aumento da produção e crescimento da qualidade", afirma.
Quitar dívidas
Na cidade de Franca, região Nordeste do Estado de São Paulo, pelo menos 70% dos produtores já estavam com a safra negociada quando os preços aumentaram.
Galileo de Oliveira Macedo foi um dos poucos na região a se beneficiar com a alta. Ele tem 900 sacas aguardando preços melhores.
Com o dinheiro que levantará com a venda, Macedo vai quitar suas dívidas com o Banco do Brasil e cooperativa. O que sobrar vai ser utilizado na nova safra.
Mas a sorte nem sempre esteve a seu lado: "Em 94 eu estava pronto para começar a colheita e, em uma noite, perdi tudo com geada".
José Francisco Conrado Jacintho, produtor em Itirapuã e presidente do sindicato rural, na região de Franca, não teve sorte.
"Se eu pudesse ter esperado, poderia trocar de carro, investir nas máquinas agrícolas, reformar a casa dos empregados e investir em novas plantações", conta ele.

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