São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Etiqueta ajuda evitar gafes internacionais

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho de administração da Sadia, não teve dúvida quando lhe serviram, na China, uma sopa com um pintinho de um dia recheado dentro, com cabeça e tudo.
Simplesmente sorveu a sopa, que, com aparência um tanto exótica para os brasileiros, era servida com pompas de prato especial.
"No mundo dos negócios, não convém recusar comidas ou fazer cara feia. É melhor prová-la, nem que seja com a ajuda de uma cerveja", afirma Furlan, que também é diretor do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp (a federação dos industriais paulistas).
Furlan evita, quando possível, sentar à direita do anfitrião árabe. "Sempre que o prato esvazia, ele serve o hóspede, que sai da mesa empanturrado." Detalhe: na maioria das vezes, o anfitrião serve a comida com a própria mão, sem o auxílio de garfo ou faca.
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Dicas como essas, mais parecidas com um manual de etiqueta, ajudam empresários a concluir negócios em países com cultura bem diferente da nossa.
"Certas gafes contribuem para um distanciamento entre os interlocutores e podem até fazer o negócio desandar", afirma Fernando Dourado, sócio da Merken, empresa especializada em ensinar executivos a se comportar em negociações internacionais.
Acostumado a viagens internacionais, Sérgio Magalhães, presidente da Abimaq (que reúne os fabricantes de máquinas), lembra de uma passagem pelo Marrocos, país muçulmano no norte da África. Numa roda de negócios, serviram bebida em uma bacia de prata. O recipiente passava de um por um, lembrando um pouco uma rodada do chimarrão gaúcho.
"Deu um certo nojo, mas o jeito foi beber ou fingir que bebia", diz Magalhães, cuja lógica é: se você está no exterior para fechar uma venda de máquinas, o melhor é seguir a regra do país.
Jogo de cintura
Mas entre todas as regras, um pouco de jogo de cintura também pode ajudar. Janyck Daudet, presidente para a América Latina do Club Med, lembra da "saia justa" de seu antecessor no cargo.
Daudet conta que ele havia acabado de chegar ao Marrocos e o rei o convidou para o aniversário do filho. Logo que entrou no palácio, formou-se uma fila para a entrega dos presentes, sempre pomposos.
Quando chegou sua vez, o ex-presidente do Med, que entrara de mãos abanando, não teve dúvida: entregou seu relógio. Mais tarde, o rei lhe confessou que foi o presente que o filho mais gostou.

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