São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lei deve abrir mercado para os médicos

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Estardalhaço e talvez a criação de novas especialidades na medicina -as de cirurgião e técnico de transplantes de órgãos.
Esse é o possível efeito da lei de doação presumida, aprovada no dia 4 deste mês pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Segundo a nova lei, todo cidadão se torna um doador em potencial, caso não manifeste vontade contrária em um documento.
Como no Brasil são feitos muito menos transplantes de órgãos do que em outros países, os efeitos da lei já criam polêmica na área médica, sobretudo entre quem lida diretamente com transplantes.
Nos Estados Unidos, onde, são feitos 25 transplantes por 1 milhão de habitantes ao ano (no Brasil esse número não chega a 1 transplante por 1 milhão), há cirurgiões que vivem dessa modalidade -que talvez surja com mais força aqui.
"Com certeza, a nova legislação vai gerar novas equipes", afirma o médico Elias David-Neto, 41, presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos).
"Assim, vai crescer o número de transplantes e, é evidente, na medida em que houver demanda, vai crescer e muito o mercado de trabalho", diz o cirurgião.
Quanto? Não se tem idéia. O fato é que qualquer cirurgião já está habilitado a realizar transplantes de sua especialidade, bastando apenas algumas adaptações.
Mas sonhar com um aumento astronômico no número de oportunidades de emprego a curto prazo é uma ilusão.
Cálculos preliminares indicam que a nova legislação vai fazer com que possa crescer entre 20% e 25% o número de transplantes -esse índice é semelhante à taxa de operações que deixam de ser feitas por recusa familiar.
Outro lado
Alguns médicos tratam de jogar água fria na fervura. "O aspecto mais positivo da lei é colocar o assunto em discussão, diz o cirurgião Alfredo Fiorelli, 44, do Incor (Instituto do Coração, de São Paulo), coordenador da Central de Transplantes da Secretaria Estadual da Saúde.
"Não acho que ela vá surtir muito efeito. Ainda precisamos de mais análises de juristas para dar posições mais firmes."
Ele concorda que o treinamento para que um cirurgião cardíaco se transforme em um de transplantes cardíacos não é complicado. "Basta um treinamento um pouco maior e uma equipe."
Dessa equipe é que nasce a outra especialização -a de técnico de transplante, geralmente exercida por um enfermeiro.
Esses técnicos realizam todo o processo de captação de órgãos. Até a abordagem da família do doador é feita por eles.
A equipe de técnicos trabalha até que o doador seja selecionado. A partir daí, atua em conjunto com o cirurgião. "Independentemente de legislação, o mercado só aumentará se for ampliada a estrutura", afirma Fiorelli.

Texto Anterior: CARTAS
Próximo Texto: Aumento inicial pode ser de 20%
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.