São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Problemas de saúde inspiram campeões

Deficientes fizeram história no pugilismo

EDUARDO OHATA
COLUNISTA DA FOLHA

Tiger Flowers e Harry Greb, ambos pesos-médios, eram cegos de um dos olhos. Paul Pender, outro médio, tinha ossos das mãos quebradiços. José Torres, meio-pesado, padecia de pancreatite. Eugene Criqui, peso-pena, perdeu parte do rosto em uma explosão. O peso-galo Mario D'Agata era surdo-mudo.
Esses ex-campeões encabeçam a lista daqueles que, mesmo sofrendo de doença ou deficiência física, conseguiram conquistar, ou manter, títulos mundiais.
A história do boxe é rica em casos de pugilistas que se inspiraram nos próprios problemas de saúde para lutar com mais garra.
Pete Herman, ex-campeão dos galos, foi um deles.
As pessoas começaram a desconfiar que havia algo de errado com Herman quando ele perdeu para Midget Smith, na década de 20. Durante a luta, Herman não desferiu um único golpe certo. Mesmo de perto, errava a maioria dos socos.
Ninguém sabia, mas Pete estava quase cego. Para deduzir onde o oponente estava, precisava ser atingido primeiro.
Mesmo assim, ao final do combate com Smith, vários espectadores acreditavam que Herman merecia a vitória por pontos.
Pete decidiu se aposentar e abriu uma boate em Nova Orleans (EUA), famosa pela beleza de suas "strippers" (mulheres que tiram a roupa).
O único mistério que permanece é: como Herman procedeu para selecionar as candidatas?
Sem ré
Tami Mauriello teve seu estilo de luta determinado durante a infância. Devido a um acidente, Mauriello não conseguia se mover para trás.
Forçado a sempre caminhar para a frente, o meio-pesado não teve opção senão adotar um estilo agressivo.
Em 1946, Mauriello desafiou o grande Joe Louis pelo título dos pesados. Após uma franca troca de golpes no primeiro assalto, Tami quase nocauteou Louis.
Muitos acreditam que se Tami tivesse sido capaz de caminhar para trás, evitando a última combinação de Louis, teria ganhado o título.
Queixo de ferro
Em alguns casos, como o de Eugene Criqui, uma defeito pode virar vantagem. O boxeador francês perdeu parte da face na Primeira Guerra Mundial.
Em 1922, anos após seu rosto ter sido parcialmente reconstituído com metal, ganhou o cinturão dos penas. É possível que, após a reconstituição, seu queixo tenha se tornado mais resistente.
Ídolo
Além de conquistar o título brasileiro dos meio-médios, em 56, Paulo de Jesus também era ídolo popular.
Participou do filme "Absolutamente Certo!", do cineasta Anselmo Duarte, e foi convidado a prosseguir a carreira de ator. Preferiu continuar com o boxe.
Em 1980, quase morreu ao sofrer um infarto. Somente então descobriu que sofria de uma arritmia cardíaca (anormalidade nas batidas do coração).
Não poderia ter praticado esportes, mas, por quatro anos, atraiu multidões aos ginásios.
O último caso de um deficiente físico que lutou por um título aconteceu em julho de 1990. Craig Bodzianowski, que perdeu uma das pernas em um acidente de moto, desafiou Robert Daniels, campeão dos cruzadores.
Boxeando com uma prótese, Craig conseguiu a façanha de perder apenas por pontos.
(EO)

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