São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997 |
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Villela mistura sonho e realidade em peça Espetáculo fica em cartaz até amanhã na Mostra Sesi DANIELA ROCHA
O mineiro Villela saiu a campo e lançou, nessa montagem, uma série de referências à realidade, como a tragédia de Caruaru, a chacina da Candelária e os conflitos dos sem-terra no Pará. Uniu fatos tão brasileiros à uma história de divindades. "O Sonho" mostra a trajetória de Agnes, filha do deus Indra, que decide viver entre humanos para tentar compreendê-los. "O Strindberg é o câmbio do sangue humano com o sangue de Deus, que é Indra, da cultura oriental", diz o diretor. Desta forma, Villela utiliza a forte referência do sangue contaminado de Caruaru. A peça começa com Atlas, trazendo a Terra em uma cadeira de rodas tomando sangue de uma bolsa pendurada. Para o diretor, a peça busca um diálogo, uma aproximação entre a divindade e o homem. "Precisamos de sangue de redenção, e não de condenação. O sangue do Cristo não foi suficiente, e nós estamos morrendo. Vivemos um impasse na nossa cadeia genética. Não podemos mais tocar no sangue porque ele nos condena. A última transfusão dentro da nossa cultura aconteceu há quase dois mil anos", disse. Terra Segundo Villela, o espetáculo foi construído esteticamente sobre o tema da terra. O conflito dos sem-terra aparece de forma marcante no espetáculo. "Estou atento ao que acontece no país. O massacre dos sem-terra foi terrível e ainda não acabou. Que tristeza é ver um sem-terra morto com os pés naquele chinelo. São pés de hebreus na busca da terra prometida, pés sagrados. Pés sem-terra, sem perspectiva de trilho, de caminhada. Tem que existir uma Justiça que olhe por essas pessoas. Eles precisam da terra para viver. Não é discurso ou bandeira política. É uma realidade deste país que deve ser pensada." Dessa composição dramática, o diretor reconduz o espectador ao enredo original de Strindberg e resume na frase de Agnes: "O ser humano é digno de lástima". Peça: O Sonho Autor: August Strindberg Diretor: Gabriel Villela Com: atores do Teatro Castro Alves Quando: hoje, 17h e 20h30; amanhã, 20h30 Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista 1.313, tel. 284-9787) Entrada: franca (retirar ingresso na bilheteria uma hora antes do espetáculo) Texto Anterior: Paulinho encontra o povo Próximo Texto: Montagem irá ao Festival de Curitiba Índice |
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