São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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China aperta cerco contra intelectuais

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O governo chinês promove uma campanha para trazer ao país a "civilização espiritual", numa ofensiva que significa voltar a apertar o controle do Partido Comunista sobre o mundo das artes e do jornalismo. Depois da morte do líder comunista Deng Xiaoping, ocorrida na última quarta-feira, a campanha deve ganhar mais força.
O presidente Jiang Zemin, sucessor apontado por Deng, não pretende admitir desafios a sua condição de "novo timoneiro" da China. A morte de seu padrinho político também empresta uma dose de insegurança que pode se traduzir em mais ataques contra os intelectuais empenhados em não seguir à risca a linha do Partido Comunista.
Jiang Zemin acompanha a cartilha de Deng Xiaoping. O arquiteto das reformas econômicas que trouxeram capitalismo à China morreu sem admitir a possibilidade de o Partido Comunista conviver com vozes discordantes de seu monopólio do poder.
O ideólogo da atual ofensiva em busca da "civilização espiritual" se chama Ding Guangen. Chefe do Departamento de Propaganda do Partido Comunista, ele aumenta sua influência na vida da política chinesa e deve sua carreira a Deng Xiaoping. Eles eram amigos e jogavam bridge.
Em dezembro, numa conferência nacional sobre propaganda partidária, Ding enfatizou que o governo não pretende afrouxar seu controle sobre o mundo das artes. Assim como Jiang, pediu aos intelectuais que "demonstrem sua lealdade ao partido".
Obras proibidas A censura chinesa proibiu a venda dos livros de Wang Shuo, um dos escritores mais populares do país. A editora Hua Yi recebeu a ordem do Departamento de Propaganda do Partido Comunista depois de ter vendido mais de 100 mil coleções com as obras completas de Wang. No estoque da editora, descansava mais uma fornada de 15 mil coleções.
As novelas de Wang Shuo retratam os grupos mafiosos e vigaristas que buscam o enriquecimento rápido no universo das reformas econômicas deslanchadas por Deng em 1978. A propaganda oficial se esforça para esconder os efeitos colaterais das mudanças.
Cineastas também ficaram sob o fogo cerrado. A imprensa oficial distribuiu críticas contra os diretores Zhang Yimou ("Lanternas Vermelhas") e Chen Kaige ("Adeus, Minha Concubina"), acusando-os de mostrar "aspectos negativos da vida chinesa para satisfazer o público estrangeiro".
Novas leis praticamente destruíram o cinema independente. O governo controla as verbas, o que obriga cineastas a buscar apoio financeiro no exterior.

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