São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997
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Jovens misses

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Elas gostam de música suave, são prendadas, gostam de praticar esportes que as mantêm na linha, leram "O Pequeno Príncipe" de cabo a rabo e são protegidas por suas mães com um rigor de fazer inveja a Joan Crawford: elas são as misses.
Ou melhor, foram. Hoje em dia, ser misse virou piada de mau gosto, uma afronta à mulher emancipada. Mas, nos anos 50 e 60, os concursos de beleza tinham o prestígio de uma final do campeonato brasileiro -e quando as ondas transmitiam o "Miss Universo", o efeito era o mesmo de uma Copa do Mundo.
Quando Marta Rocha perdeu por duas polegadas para uma norte-americana sem graça chamada Mirian Stevenson, o país inteiro se revoltou. As duas polegadas se tornaram assunto mais importante do que as graves crises políticas que aconteciam e que levariam Getúlio Vargas à morte poucos dias depois.
"Por duas polegadas a mais, passaram a baiana para trás", cantaram os foliões no Carnaval seguinte.
Tudo sobre Marta Rocha era notícia. Até cantar ela cantou. Gravou com Emilinha Borba a música "Abraço Fraternal". Mas não seguiu carreira. Ao contrário de outras misses.
Concursos de beleza sempre foram um passo importante para as garotas de boas famílias que queriam entrar no meio artístico. O próprio concurso "Miss Brasil" se tornaria em pouco tempo um programa de televisão especial e esperado, onde a cada ano a produção era mais caprichada.
Cantores do momento entretinham a platéia e os telespectadores enquanto o júri tomava decisões. O cenário se sofisticava a cada ano, a ponto de, em 1965, ter a forma do símbolo do quarto centenário do Rio de Janeiro. Enfim, ser miss Brasil era tão importante quanto ser quatrocentão.
E, mesmo não tendo seguido carreira, Terezinha Morango e Adalgiza Colombo tentaram o cinema, cada uma em seu reino, em filmes da Atlântida.
Ironicamente, nossas únicas duas misses Universo, Ieda Maria Vargas e Marta Vasconcelos, não mostraram grande afinidade com as câmeras, restringindo suas aparições a programas de entrevistas onde, invariavelmente, o assunto era "como manter a beleza".
Hoje em dia, quem quiser ir para a TV e não tiver nenhum talento não deve se candidatar em nenhum concurso de beleza. Deve seguir outro caminho: Ser modelo.
Embora, aqui entre nós, essa história de modelo pegar o lugar de ator também já tenha dado o que tinha de dar. O público não é tão idiota como os idiotas do "sofá de casting" pensam.

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