São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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'Doleira' é semi-analfabeta

DEISE LEOBET
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Ozória Bérgamo Justino, citada pela CPI dos Títulos Públicos como sendo uma das doleiras envolvidas no escândalo dos precatórios é uma agricultora semi-analfabeta, de 83 anos, que vive com uma aposentadoria, deixada pelo marido (morto há 17 anos), de um salário mínimo.
Segundo a CPI, Ozória teria recebido R$ 169 mil da IBF Factoring. A suposta doleira foi localizada pela Agência Folha em Lobato (494 km a oeste de Curitiba).
Sem condições de pagar até mesmo o aluguel, a viúva mora em uma casa cedida temporariamente pelo atual prefeito da cidade, Antônio Carlos Rodrigues.
"É uma sacanagem o que estão fazendo com a minha tia. Ela mal tem dinheiro para se sustentar, todo mundo da família tem de dar dinheiro para ela poder ir ao supermercado", disse a sobrinha de Ozória, Elizete Bérgamo.
Segundo Elizete, os parentes ficaram sabendo do suposto envolvimento da tia com a IBF pelos jornais. A sobrinha contou ainda que a tia é cardíaca e que os remédios que ela toma são doados pela Secretaria Municipal de Saúde.
Os parentes de Ozória dizem que ela não tem nem conta corrente em banco. "A única operação com banco que ela faz é uma poupança onde nós depositamos uma quantia todo mês para ajudá-la a comprar um terreno e construir uma casa", disse Elizete.
Ozória mora em Lobato desde 1992, quando foi retirada pelos parentes de uma chácara no distrito de Santa Zélia, em Astorga (PR), onde vivia sozinha. Ela é mãe de três filhos. "Ela mal sabe rabiscar o próprio nome", disse o sobrinho de Ozória, Fortunato Bérgamo, ex-prefeito de Lobato.
Bérgamo suspeita que a tia possa ter sido enganada por alguém e assinado uma procuração sem saber do que se tratava. "Ninguém entendeu o que está acontecendo".

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