São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997 |
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Médico depõe e acusa mais 4 hospitais
CRISPIM ALVES
Durante o depoimento, o médico revelou à polícia que chegou a assinar atestados em branco e que participava do mesmo esquema em pelo menos outros quatro hospitais, além do Heliópolis. São eles o Hospital do Ipiranga (zona sul de São Paulo), o Hospital de Vila Prudente (zona leste), o Pronto-Socorro Municipal de São Caetano e a Beneficência Portuguesa de São Caetano (no ABCD). Martinez, que já foi condenado por exercício ilegal de medicina, prestou depoimento por sete horas na Delegacia Seccional Sul, no inquérito que apura a venda de atestados de óbito falsificados no Hospital Heliópolis. Segundo a polícia, Martinez confirmou que assinava os atestados de óbito após ser acionado por duas funerárias de São Caetano: a Oswaldo Cruz e a Migliatti. O médico é acusado de fazer parte de um dos esquemas montados por uma quadrilha suspeita de também praticar tráfico de órgãos e até de cadáveres. Martinez afirmou que cobrava, em média, R$ 120 por atestado de óbito. Além das falsificações, a causa e o local da morte eram alterados. Na maioria dos atestados, geralmente assinados por médicos que não trabalham no Heliópolis, consta que as pessoas morreram no Pronto-Socorro Municipal de São Caetano. Mediante pagamento que girava entre R$ 100 e R$ 1.000, fora o valor do caixão, com preço acima do mercado, a quadrilha (agências funerárias, funcionários do Heliópolis e médicos) providenciava o atestado sem que o corpo passasse pela autópsia e encaminhava os familiares a uma funerária. A funerária pagava uma taxa aos funcionários do hospital e aos médicos que assinavam os atestados. As investigações eram baseadas em 83 mortes ocorridas no segundo semestre de 96. Mas o esquema começou em janeiro de 95, e os casos podem chegar a mais de 250. No depoimento, Martinez confirmou ainda que chegou a assinar atestados em branco, ou seja, sem os dados pessoais do paciente que morreu. Ele admitiu também que nem chegou a ver alguns corpos. O indiciado afirmou ainda que pelo menos outros três médicos participavam da quadrilha. Com relação à possibilidade de haver tráfico de órgão ou até de cadáver, Martinez afirmou ao delegado Romeu Tuma Júnior, que comanda as investigações, desconhecer o fato, mas admitiu a possibilidade de isso acontecer, tendo em vista que ele não acompanhava todo o procedimento e chegava a não ver alguns corpos. Após o depoimento, Tuma Júnior chegou à conclusão que 40 pessoas inicialmente estejam envolvidas no esquema. O juiz Francisco Galvão Bruno, corregedor do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), autorizou a liberação dos prontuários médicos do Heliópolis desde janeiro de 95. Texto Anterior: Hidrelétricas favorecem reaparecimento de doenças Próximo Texto: Hospital espera ser comunicado Índice |
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