São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Geografia, cultura e política se unem contra a racionalização dos torneios

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

É quase um consenso que o futebol brasileiro tem jogos em excesso. Em parte, isso se deve a um fenômeno sem precedentes: em nenhum outro lugar são disputados torneios nacionais e regionais nas proporções dos brasileiros.
Essa é uma tendência universal.
No Brasil, existem três obstáculos para que essa opção seja definitivamente implantada:
1- O obstáculo geográfico, pela extensão territorial do país. Nenhum outro país tem uma rede de campos de futebol, onde se disputam partidas profissionais, tão grande quanto a do Brasil.
2- O obstáculo cultural. A formação e o crescimento do futebol brasileiro se deram em bases regionais. Daí a dificuldade de superação dessa cultura regionalista.
3- O obstáculo político, derivado do item "2". O regionalismo fortaleceu politicamente as federações de futebol estaduais.
Obstáculos estaduais
Essas federações são hoje o principal empecilho para a redução e a racionalização da programação de jogos no Brasil.
Para o fortalecimento dos campeonatos e torneios nacionais existem várias propostas, que podem basicamente ser alinhadas em três idéias gerais.
A primeira defende a extinção pura e simples dos campeonatos estaduais.
A segunda, levando em consideração a tradição cultural, propõe o encolhimento dos torneios estaduais, mas não a sua extinção.
A terceira, propõe a consideração das questões de tradição e de geografia: concorda com a manutenção reduzida dos campeonatos estaduais, mas defende uma espécie de campeonato nacional regionalizado, levando em consideração as dimensões do país.
Qualquer uma das três fórmulas propostas precisa ainda definir duas questões:
1) Como ficariam, em cada caso, as divisões secundárias no plano nacional? Deixariam de existir ou existiria uma segunda divisão nacional (para alguns, pelo menos no atual estágio do futebol brasileiro, ela não despertaria interesse nem do público nem da televisão)?
2) Como ficariam os times excluídos das principais (ou da principal) divisões nacionais? Disputariam torneios regionais? Desapareceriam simplesmente?
Os defensores do aumento do calendário para o campeonato nacional argumentam que, com a transmissão ao vivo pela televisão e as facilidades de vôos domésticos de hoje, a questões regionais e as questões geográficas perderam o seu peso.
Uma final do Campeonato Brasileiro entre Grêmio e Cruzeiro, por exemplo, ou entre Flamengo e Corinthians, desperta interesse em todas as praças brasileiras.
Tendência européia
Além disso, para defender a priorização dos torneios nacionais, argumentam que, na Europa, a tendência tem sido a de valorização constante dos torneios continentais.
Esses torneios, em tese, também sofreriam os inconvenientes regionais e geográficos.
Entre os europeus, há um desejo dos proprietários de clubes em aumentar o número de jogos dentro de uma mesma temporada.
A idéia seria crescer o montante de times nos torneios continentais, forçando ainda mais a internacionalização do futebol.
Com o grande interesse pela mercadoria futebol, e com o alto custo dos elencos, a maneira de aumentar a rentabilidade dos times seria aumentar a produtividade dos jogadores.
O próximo grande passo para a internacionalização seria a unificação mundial do calendário do futebol.
Para muitos, essa seria uma das saídas para resolver o impasse do calendário do futebol brasileiro.

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