São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Mercado cresce, editoras caem

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

No primeiro semestre de 96, o mercado editorial brasileiro vendeu 42% mais livros do que no mesmo período de 95, segundo a mais recente pesquisa da Câmara Brasileira do Livro. Apesar disso, editoras nacionais de médio porte afirmam estar amargando sérios problemas financeiros.
Falta de parque gráfico próprio, aumento da concorrência, distribuição deficiente, problemas internos, Plano Real.
Seja qual for o motivo, essas editoras -classificadas de médias devido a seu faturamento e ao número de suas tiragens- evitam usar a palavra crise, preferindo se referir ao período como "adaptação à nova realidade econômica imposta pelo Real".
Um exemplo é a situação vivida pela editora Cortez, fundada há mais de 20 anos e especializada em livros acadêmicos.
Diferentemente de seus colegas do setor, o diretor-presidente da empresa, José Xavier Cortez, não esconde os números da companhia e diz que os últimos dois anos foram os piores da história da editora: "As vendas caíram 15% em relação a 94", afirma.
Segundo ele, os professores, público-alvo da Cortez, tiveram seus salários achatados, e livro acabou se tornando "artigo de luxo".
Além disso, o diretor-presidente -e a maioria dos editores ouvidos pela Folha-, se queixam da falta de uma política governamental mais profunda para o livro não-didático, setor produzido por eles.
"No Brasil, não se investe nas bibliotecas universitárias. Eu me canso de receber pedidos de faculdades para doarmos algumas de nossas obras. O governo é que tem de comprá-las", declara Cortez.
O diretor da Sumus, Raul Wassermann, confirma que "a situação das pequenas e médias editoras está difícil, sim".
Aos fatores descritos por Cortez, ele acrescenta a grave falta de capital das livrarias independentes.
Além disso, com o aumento do número de títulos, cresceu a disputa por pontos de venda.
Laura Bacelar, ex-editora da Brasiliense, que enfrenta grave crise financeira (leia texto à página 4-3), afirma que as grandes livrarias privilegiam apenas best sellers, o que dificultaria ainda mais a venda de obras das editoras médias.
"Mas um dos grandes problemas ainda é a ausência de um sistema de distribuição eficaz", explica Laura. O outro, segundo ela, seria a falta de incentivo do governo.
Luiz Schwarcz, diretor da Companhia das Letras, editora de livros não-didáticos com grande sucesso em vendas, faz um contraponto sobre as críticas ao Estado.
"O empresário brasileiro quer buscar explicações externas. Não é o governo que vai resolver isso. A solução é aumentar o parque gráfico, elevando o número das tiragens e barateando o livro."
Se por um lado as médias editoras enfrentam dificuldades no mercado, as grandes empresas do setor não têm do que se queixar. Produtoras de grandes tiragens, elas se expandem cada vez mais.
A Ática e a Scipione, por exemplo, poderosas nos didáticos, estão ampliando seus investimentos.
Em 96, cerca de 25% das obras vendidas pela Scipione foram não-didáticas.
"Esperamos chegar a 35% este ano, já que esse tipo de livro vende durante todos os meses e não apenas no início do ano letivo", acredita José Galafassi Filho, diretor-comercial da editora.
A Record é exceção no mundo das "grandes", produzindo apenas não-didáticos. No final de 96, ela comprou o controle acionário da Civilização Brasileira e da Bertrand Brasil.
"Além de nosso parque gráfico, criamos uma nova política editorial, ao publicar de forma consistente outras fatias do mercado, como ensaios e novos autores de ficção", explica a diretora-editorial Luciana Villas-Boas.

LEIA MAIS sobre editoras à pág. 4-3

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