São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Pinky Wainer abre labirinto feminino

CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O labirinto de vestidos que Pinky Wainer mostra a partir de hoje na Galeria São Paulo tem como norte as imensas faíscas silenciosas reveladas em seu avesso.
"LABIRINTO FAÍSCA SILÊNCIO REVELADA AVESSO NORTE IMENSA", a sétima e mais vigorosa exposição individual da artista, mostra que muitos são música; Pinky é letra e música.
A artista costurou, "sem truques", uma visão pungente do universo feminino em telas que mesclam vestidos, gesso, pó de ferro e muitas palavras: assexuadas, duras, mas que, em conjunto, "se transformam em uma mulher".
Os instrumentos que Pinky usou para esta "cirurgia" estão todos dispostos em uma mesa. Lá, se misturam esponjas, vestidos, dicionários, tintas e o caderno em que a artista faz suas anotações pessoais de trabalho. Um escrito na parede esclarece de forma bem-humorada: "Isto não é uma instalação. É mostra de processo de trabalho. Isto não é arte. Isto não é um cachimbo."
Esse foi um dos desafios que Pinky Wainer resolveu enfrentar nesta exposição. Com a frase "eu posso" na cabeça, criou um título "antimarketing" para a mostra, riscou a palavra alma de um quadro que já estava no catálogo -porque estava "de bode" com a alma- e criou uma tela chamada "subversivamente" de "Monitoria", que junta dezenas de palavras "que não explicam nada".
Leia a seguir trechos da entrevista com a filha de Samuel Wainer e Danuza Leão:
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Folha - Por que você diz que "se livra dos truques"?
Pinky - Eu trabalho muito com arte aplicada. Livro infantil, capa de livro, embalagem. Refletindo sobre isso, descobri que tenho habilidade manual. Porém, ao fazer as duas coisas paralelas, percebi que habilidade manual é ótimo, mas não é arte. Na hora da tela, da minha pintura, sou muito rigorosa quanto a usar truques que eu conheço que fazem uma sedução barata, sem-vergonha, com o olho do outro.
Folha - Por exemplo?
Pinky Wainer - Cor, o uso da sedução barata da cor. Outro truque é repetir com poucas diferenças uma coisa que já fiz antes e sei que deu certo. Com a minha pintura, quero a ética mais rigorosa, mais severa possível. Estou o tempo todo evitando isso. Tenho minha ética comigo mesma e com o meu colecionador. Meu compromisso é o de estar sempre arriscando, sempre andando. Com isso, eu estou valorizando e respaldando as fases anteriores.
Folha - Na sua opinião, por que grande parte das artistas trabalha o tema do universo feminino? Por que os homens não discutem o universo masculino?
Pinky Wainer - Primeiro, eu acho que os homens deveriam trabalhar mais sobre o masculino. Acho que é cultural. Sempre foi assim. É uma reprodução moderna de um comportamento cultural de séculos. Engraçado isso.
Folha - E por que o vestido?
Pinky - O vestido é um clichê tão banal que é um bom começo de conversa. Gosto de ter alguma comunicação com meu espectador. A coisa do Olimpo não me interessa. Na minha fantasia, o meu espectador é um cara que está passando na rua e entra sem querer na galeria. Se ele reconhecer o vestido, já está bom. Se ele tiver novas leituras, melhor ainda.
Meus vestidos têm um processo contrário, que é uma coisa que está presente no título e no meu trabalho todo: a coisa do revelar. Os vestidos são colados, mas são todos arrancados. Eu tentei deixar um vestido colado, mas não aguento, quero saber o que tem por trás.

Exposição: LABIRINTO FAÍSCA SILÊNCIO REVELADA AVESSO NORTE IMENSA
Quando: hoje, às 21h; segunda a domingo, das 10h às 22h; até 19 de março
Onde: Galeria São Paulo (r. Estados Unidos, 1.456, tel. 011/852-8855)

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