São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Mostra mapeia arte de memória escrava

CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em 1789, pouco antes da Revolução Francesa, os habitantes do pequeno vilarejo de Champagney assinaram um documento em que pediam ao rei Luís 16 a abolição da escravatura.
A comunidade, do norte da França, nunca vira escravos, mas as 65 assinaturas do documento acabaram protagonizando uma das ações mais poderosas de todos os tempos contra a escravidão .
A exposição "A Rota da Arte sobre a Rota dos Escravos", aberta ao público a partir de hoje, tem, logo na entrada, como uma espécie de amuleto, uma cópia do Voto de Champagney, nome desse manifesto.
"Mesmo que não saibamos para aonde vamos, sabemos de onde viemos", diz a curadora Régine Cuzin, citando provérbio ioruba que serve de mote à exposição.
A mostra foi inaugurada na França em 1994, em comemoração ao bicentenário da primeira abolição francesa.
Porém Cuzin esclarece que, "mais do que comemorar o bicentenário, a intenção da mostra é mapear as consequências culturais em diferentes países das rotas de comércios negreiros".
Segundo ela, a mostra trabalha essencialmente com a memória, com as reminiscências.
Um dos melhores exemplos é a obra de Rosana Paulilo, que trabalhou a noção de "memória de parede" a partir de uma instalação com patuás, objeto de devoção formado por pequenos pedaços de pano bento.
Nos patuás da brasileira, que foi convidada a participar da mostra itinerante junto a cinco africanos, um francês e três caribenhos, estão retratos de familiares.
Cuzin, que trabalha apenas com artistas africanos, diz que entre os destaques da mostra estão as pinturas de Télémaque, os trabalhos em madeira de El Loko e a instalação de Bill Bidjocka, composta por latas de lixo, pintura e 600 quilos de sal grosso.
A curadora conta que a idéia de pesquisar o resultado das sementes artísticas africanas ao redor do mundo veio da reflexão de que, ao passo que a música com influências do continente floresceu, as artes plásticas de origem afro não foram reconhecidas.
As cerca de 40 obras da mostra tiveram dificuldades compatíveis para chegar ao Brasil. A exposição, que tinha vernissage programado para 14 de fevereiro, ficou presa na alfândega devido a problemas nos computares da Receita e teve de ser adiada.

Exposição: A Rota da Arte sobre A Rota do Escravo
Quando: terça a sexta, das 10h às 21h. Sábado, domingo e feriado, das 10h às 20h. Até 23 de março
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 871-7700)

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