São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Como lidar com o estresse e manter a perspectiva

BILL GATES

Pergunta - No ambiente técnico e dinâmico no qual você se movimenta, as coisas devem ficar estressantes de vez em quando. Qual a disciplina que você pratica para preservar uma perspectiva equilibrada? Robert Walker, Victoria, Canadá (rjwalker@moh. hnet.bc.ca).
Resposta - Quando acontece alguma coisa que me surpreende, procuro relaxar um pouco para não me deixar dominar pela emoção do momento.
Uma surpresa, especialmente quando não é desejada ou é estressante, provoca uma reação emocional imediata.
É desejável deixar de lado, o máximo possível, essa reação inicial, ou pelo menos procurar entender por que você reagiu daquela maneira.
O estresse nos chega sob muitas formas, desde a antecipação branda de um desafio agradável até a preocupação debilitante.
Se você deixar que isso aconteça, um fator estressante é capaz de suprimir seu pensamento racional e equilibrado. Pode reduzir seu desempenho e sua abertura de espírito e tornar você menos receptivo. Quando um problema se apresenta, avalio meu estado emocional antes de reagir.
Às vezes, sinto-me capaz de fazer de imediato uma boa análise racional. Outras vezes, digo a mim mesmo: "Vai levar um tempinho até conseguir pensar sobre essa situação com calma".
Felizmente, não há muitas coisas que eu julgue tão estressantes assim. Reuniões de trabalho não me causam nenhuma ansiedade. Se eu não pude contribuir muito para uma reunião, digo a mim mesmo: "Acho que meu cérebro não está funcionando hoje".
Mas, depois de passar por algumas reuniões desse tipo, começo a fazer uma autocrítica: "Será que não dormi o suficiente? O que há de errado comigo?" Mas não sinto estresse.
Também não fico estressado quando preciso me dirigir a platéias grandes. Por exemplo, sinto-me à vontade para fazer um discurso importante na feira de informática Comdex, desde que não haja surpresas desagradáveis no último minuto. A coisa fica estressante quando parece que nenhuma das demonstrações de softwares vai funcionar, ou quando alguém passa no local antes de eu começar e me diz: "Será que você poderia acrescentar tal coisa a seu discurso?"
Pode ser estressante o fato de alguém passar no meu escritório e dizer que pretende pedir demissão.
É estressante quando alguém me conta que um concorrente lançou um produto capaz de deixar o nosso no chinelo ou que perdemos um grande cliente.
No que diz respeito ao trabalho, a única coisa que realmente me desperta reação emocional ruim é a expectativa que as pessoas às vezes nutrem em relação à Microsoft.
Fico ansioso quando percebo que as pessoas supõem que vamos continuar crescendo e sempre fazendo tudo certo.
E é um pouco estressante o fato de que sempre estão prontas a nos arrasar, nos picar em pedaços, se não satisfazemos todas as suas expectativas.
Mas eu não perco tempo me preocupando demais com esses fatores estressantes. Simplesmente procuro compreender minhas reações a eles.

Pergunta - Se você pudesse encontrar a resposta para apenas uma coisa, o que perguntaria? Ken Reimer (kreimer@ix.urz.uni- heidelberg.de)
Resposta - Eu gostaria de compreender como funciona o cérebro humano. Se houvesse uma máquina capaz de responder a qualquer pergunta, seria essa a pergunta que eu faria a ela.
Sinto um respeito enorme pelo cérebro e por sua capacidade de aprender. Fico fascinado por coisas como a maneira pela qual a criança aprende línguas, as desordens mentais -tais como o autismo- e o papel da área límbica do cérebro em permitir que os aromas desencadeiem mudanças de estado de ânimo.
Realmente curto leituras sobre o cérebro, cujos segredos figuram entre os grandes enigmas da ciência.

Pergunta - Que tipo de computador você usa? Você tem o mais recente e maior ou apenas um computador básico? Steven Coolen (Coolen@ NS.Sympatico.ca)
Resposta - Essa pergunta foi uma das primeiras a que respondi quando lancei minha coluna, no início de 95. Em um sentido minha resposta mudou desde então; em outro, não.
Naquela época, eu usava um laptop 486, com 12 Mbytes de memória e um disco rígido de 240 Mbytes. Eu o levava da casa para o escritório e vice-versa. Chegando a minha casa, eu o ligava à rede empresarial da Microsoft, via linha ISDN (uma linha telefônica digital que transporta dados mais rapidamente do que uma conexão telefônica convencional).
Eu tinha docking stations (estações que dão aos portáteis recursos de micros de mesa) em casa e no escritório.
Colocava o laptop na estação, e ele ficava conectado a um monitor, um teclado e um mouse de tamanho normal. Quando viajava a trabalho, eu usava a tela, o teclado e o mouse do próprio portátil.
Depois que escrevi aquela coluna, muitas pessoas comentaram que ficaram surpresas por eu usar um 486. "Por que não um Pentium?", perguntavam. Eu usava um 486 porque, na época, muitos consumidores usavam 486, e eu queria ter as mesmas experiências que o usuário mais comum.
Essa era uma abordagem muito comum na Microsoft. Quando Brad Silverberg foi encarregado de desenvolver o "Windows 3.1" e o "Windows 95", insistiu em que seus programadores utilizassem máquinas mais velhas, para que pudessem apreciar o tipo de problema que seria encontrado pelos usuários típicos.
No final de 1996, quando o chip Pentium, da Intel, já se tornara o padrão mais usado, adotei um laptop Pentium. Uau! Estou felicíssimo com a melhora do desempenho.
Embora o modelo de portátil que uso tenha mudado nesses últimos dois anos, várias outras coisas não mudaram.
Continuo carregando meu laptop de uma docking station a outra, em casa e no trabalho.
Continuo me conectando ao escritório via uma linha ISDN.
E, embora meu laptop atual seja um modelo mais novo, ainda é uma máquina média, mas tem mais memória -48 Mbytes de RAM- do que a maioria das pessoas vai usar por algum tempo ainda. Fora isso, é um PC muito comum, com disco rígido de 1,3 Gbyte, operando com uma versão de 133 MHz do Pentium. Existem PCs mais velozes, mas continuo querendo sentir a experiência do usuário típico.
Uma coisa mudou. Como a Internet se tornou importante, tenho um computador separado no escritório, com tela grande, para surfar pela Web.
Ele mostra quatro sites na tela simultaneamente, de modo que posso acompanhar o que minha empresa e seus concorrentes andam fazendo na Web. Estamos pensando em projetar a imagem, para que fique ainda maior e com alta resolução.
Um usuário típico não precisa de um segundo computador, com monitor enorme, para navegar pela Internet -e, estritamente falando, eu também não. Mas ele me oferece um mundo de informações ao mesmo tempo, e eu curto isso.

Tradução de Clara Allain.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. E-mail±askbill@microsoft.com

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