São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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MST anuncia que voltará a invadir fazenda

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO

As cerca de 600 famílias que estão acampadas próximo à usina Taquaruçu, em Sandovalina (Pontal do Paranapanema), preparam nova invasão à fazenda São Domingos, para colher 280 alqueires de milho.
"A colheita do milho é sagrada. É líquido e certo que os trabalhadores vão colher aquele milho, custe o que custar. O governo sabe, o fazendeiro sabe, a polícia sabe", disse ontem Zelitro Luz da Silva, um dos líderes dos sem-terra na região.
A fazenda São Domingos foi palco, no domingo, de tiroteio que deixou oito sem-terra feridos.
O filho do fazendeiro, Manoel Domingos Neto, e quatro funcionários da fazenda revidaram à bala uma tentativa de invasão de sem-terra. Os cinco estão presos.
A tentativa de invasão da fazenda foi o principal argumento utilizado pelo juiz de Pirapozinho, Darci Lopes Beraldo, para decretar a prisão preventiva de José Rainha Jr. e de outros quatro líderes do MST (Movimento dos Sem Terra).
Marcio Barreto, um deles, está preso desde segunda-feira. Os outros estão foragidos.
Planos
Zelitro da Silva, integrante da coordenação nacional do MST, disse que o afastamento temporário de Rainha Jr. não altera os planos de ações do movimento.
O líder sem-terra não revelou a data da colheita do milho. Uma parte da plantação está em condições de colheita. Em outra, o milho ainda está verde.
Para o líder, de nada adianta prender os sem-terra. "Isso é um movimento social e funciona como uma mola. Aperta, aperta e, quando solta, vem com mais força", afirmou.
Para Zelito da Silva, "o problema da reforma agrária não se resolve com prisões. Pode prender quantos sem-terra quiser, que não vai resolver se não houver vontade política do governo de enfiar a mão no Tesouro Nacional e desapropriar terras".
Mais violência
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Roosevelt Roque dos Santos, disse temer mais violência se a ação do MST se confirmar.
"Espero que as autoridades tomem providências para fazer cumprir a lei e impedir mais esta prática criminosa", afirmou.
Zelitro da Silva disse não acreditar que "eles (fazendeiros) sejam insanos a ponto de impedir a colheita" do milho.
O comandante da Polícia Militar na região, coronel Lelsis André Pires de Morais, disse que, no caso de qualquer invasão, vai agir dentro da lei, com ordem judicial.
Ação suspensa
A PM suspendeu anteontem à noite a operação que envolveu 120 homens em buscas aos líderes do MST próximo ao acampamento de Taquaruçu. O comandante da Polícia Militar afirmou que cessou a necessidade da ação.
Zelitro da Silva reapareceu ontem em Teodoro Sampaio (740 km a oeste de São Paulo), juntamente com José Eduardo Gomes da Silva, coordenador do acampamento Taquaruçu.
Os dois estavam "sumidos" desde segunda-feira.
Gomes da Silva estava com Marcio Barreto quando este foi preso por um comando da Polícia Militar na entrada do município de Teodoro Sampaio.

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