São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Esquenta a disputa pela Açominas

LUÍS NASSIF

Ontem circularam rumores insistentes no mercado de que a Belgo Mineira já teria fechado acordo com acionistas da Açominas, visando a tomada do seu controle. A coluna ouviu de fonte fidedigna que o acordo já teria sido fechado.
Como se sabe, há dois movimentos em jogo.
Da parte da Açominas, a tentativa de arrumar um sócio que ajude a capitalizar a empresa para, em período a ser definido, habilitar-se à compra da Siderúrgica Mendes Júnior (SMJ), que lhe deve US$ 400 milhões.
Da parte da Belgo Mineira, a tentativa de adquirir não só a SMJ como a própria Açominas, para montar um conglomerado integrado.
O lance da Açominas, esta semana, foi levar ao governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, o representante da NetSteel -grupo siderúrgico de Cingapura, selecionado pelo Morgan Stanley para seu sócio.
No âmbito do governo mineiro, o principal padrinho da operação é o secretário da Fazenda de Minas, João Eraldo, membro do conselho da empresa, na qualidade de representante do governo estadual. E, entre os articuladores, estão grupos de ex-funcionários da Vale, interessados em assumir a companhia provavelmente para se habilitar ao próprio leilão da Vale, daqui a alguns meses.
A estrutura de aliados inclui o Clube de Funcionários da Açominas, com 20%, o governo de Minas, com 8%, e a Vale do Rio Doce, com 5%.
Reestruturação
Depois que foi vítima de um saque, quando esteve sob controle da SMJ, a Açominas empreendeu uma estratégia em quatro lances.
Primeiro, o programa de reestruturação financeira da empresa. Depois, a captação de US$ 400 milhões no mercado internacional, ajudando a alongar sua dívida.
A terceira etapa é a capitalização da empresa, por meio da atração de sócio com capital. A quarta, o plano de investimento, destinado a reduzir seus custos em 25%, tornando-a apta a competir no mercado internacional.
O sócio de Cingapura deverá entrar no capital da Açominas, investindo US$ 200 milhões em novos equipamentos. Pelo acordo em andamento, os créditos da Açominas com a SMJ ficariam de propriedade dos atuais sócios, visando limpar a companhia.
Lance da Belgo
O segundo lance partiu da Belgo, que está montando uma operação de "take over" hostil -tomada de controle da Açominas.
A Belgo possui os 17% de participação da Mendes Júnior, que adquiriu por meio de um acordo de arrendamento da companhia. Está conseguindo fechar mais 6,21% da Villares, 10% do Econômico e 10% do BCN. Ficariam faltando 7%.
Pela Belgo, o banco que está articulando a operação é o Pactual. E tem o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é grande credor da SMJ e teme que a falta de uma estrutura de poder definida na Açominas leve à repetição dos problemas que marcaram o início da privatização da empresa.
Registre-se que o BNDES poderá assumir a parte do governo mineiro na Açominas, dentro do projeto de reestruturação financeira do Estado.
Obviamente se sair a associação com o sócio de Cingapura, o capital será diluído e a atual estrutura de poder será mantida.
Belgo Mineira O presidente da Belgo, Riutchi Kanadani negou a existência do "take over" hostil -que significaria conseguir mais que 51% das ações de controle.
Mas não negou que a empresa esteja negociando com bancos acionistas da Açominas que, ao mesmo tempo, sejam credores da SMJ mas que, de qualquer modo, não representariam 51% do capital da companhia.
A SMJ possui 17% do capital da Açominas, mas que está dado em garantia a créditos bancários. A intenção da Belgo é desonerar esses créditos.
De qualquer modo, recusou-se a avançar qualquer informação, inclusive devido ao fato de a Belgo ser uma empresa de capital aberto, com ações em Bolsa.

Email: lnassif@uol.com.br

Texto Anterior: Essa estranha mania de combater a corrupção
Próximo Texto: Inflação em SP mantém ritmo de queda
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.