São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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Kogut cria 'lugar nenhum' em videoinstalação

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Instituto Cultural Itaú (ICI) inaugura amanhã mais uma invenção da cineasta e videomaker carioca Sandra Kogut: a videoinstalação "landSCAPE", uma espécie de caverna cujas paredes internas são revestidas por 140 monitores de TV ligados.
Até 29 de março o ICI estará exibindo, além da videoinstalação, uma retrospectiva de trabalhos da artista, incluindo os vídeos "Parabolic People" e "Videocabines São Caixas Pretas", o curta-metragem "Lá e Cá" e três programas da série "Brasil Legal".
O evento dá início a uma programação permanente do ICI na área da arte eletrônica. De acordo com Lucas Bambozzi, que ao lado de Lúcia Koch faz a curadoria dessa programação, o próximo evento previsto é um encontro entre os cineastas e videomakers Carlos Nader e Kiko Goffman, com exposições e debates.
Para viabilizar a montagem da videoinstalação "landSCAPE", que faz parte do projeto "Ambiente", do ICI, Sandra Kogut recebeu do instituto R$ 24 mil.
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Folha - Como é a videoinstalação "landSCAPE"? O que é exibido nos monitores?
Sandra Kogut - Nada. Todas as TVs estão fora do ar. É como se fosse uma caixa, no escuro, recoberta de TVs fora do ar. Você entra nessa grande caixa como quem entra numa caverna de paredes irregulares, porque os aparelhos de TV são dispostos de modo assimétrico.
Folha - E o que acontece?
Kogut - O visitante aciona projetores escondidos no meio dos monitores, e imagens são projetadas sobre o seu corpo. Para ver essas imagens, você tem de olhar para você mesmo, ou para quem está com você.
São, basicamente, pequenos textos que definem lugares imaginários. Tirei esses textos do "Dicionário de Lugares Imaginários", uma antologia de excertos de vários autores.
Esse lugar é lugar nenhum. É como se você estivesse dentro da imagem.
É como se você tivesse todas as imagens ao mesmo tempo, o que equivale a nenhuma imagem.
Folha - Você é mais conhecida como videomaker, diretora de TV e cineasta. Faz tempo que você faz videoinstalação?
Kogut - Faz. A primeira foi há dez anos. Eu já fazia vídeo, mas estava muito mais próxima das artes plásticas do que da narrativa de tipo cinematográfico. Fiz uma exposição grande no Rio em 88, com várias instalações. As pessoas ficaram meio perplexas, porque na época era uma novidade.
Folha - Você diz que "landSCAPE" forma uma trilogia com o vídeo "Parabolic People" e o filme "Lá e Cá". Por quê?
Kogut - Nos três, há a mesma idéia de um "lugar nenhum". No "Parabolic People", era a cabine que eu instalava na rua e na qual os transeuntes entravam para falar à câmera.
No "Lá e Cá" (inspirado em conto de Aníbal Machado), é o momento da personagem, suspensa entre dois mundos: o do subúrbio, onde ela mora, e o da zona sul, para onde ela quer ir.
Folha - O que você está fazendo agora?
Kogut - Estou fazendo um curta de 26 minutos para uma TV francesa. Eles viram o "Lá e Cá" e me encomendaram um curta.
Eu posso fazer o que quiser, com uma única condição: de que seja nos Pirineus, entre a França e a Espanha.
Passei duas semanas na região, estudando locações. Logo terei de voltar para lá e filmar. Tenho que entregar o filme até julho.
Folha - Você já fez vídeo, TV, cinema, instalação. Em que meio se sente mais à vontade? Ou a intenção é mesmo borrar as fronteiras entre eles?
Kogut - Escolher é impossível para mim. Dependendo do momento, ou do projeto, tem um dos meios que vai se prestar melhor, ou então uma mistura deles. Não é uma questão de procurar um caminho, é tudo misturado desde o começo. Talvez isso seja uma situação típica de nossa época.

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