São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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A arte sempre foi engajada

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Arte engajada. O trinômio arte, religião e política é provavelmente tão antigo quanto a própria arte.
Os pesquisadores ainda não sabem bem por que os homens das cavernas pintavam bisões ou outros animais em determinadas cavidades espeleológicas, mas o faziam. Talvez um ritual religioso para garantir a caça, talvez uma forma de exercer poder.
O fato é que a arte sempre foi engajada -por mais que os parnasianos o neguem. O primeiro exemplo assumidamente político foi o da Contra-Reforma. Criando o belo barroco, os fiéis a Roma pretendiam arrebanhar mais almas do que seus despojados (às vezes nem tanto) concorrentes protestantes.
Fica claro, portanto, que o lema parnasiano "A arte pela arte" era de uma falsidade bastante estranha. Basta lembrar que o príncipe dos parnasianos, Olavo Bilac, é também o patrono do serviço militar obrigatório. Arte sem política é balela. Dá, no máximo, para disfarçar, mas não negar.
Os melhores exemplos da arte realmente engajada partem da Revolução de Outubro. O cinema de Eisenstein ("Encouraçado Potemkin", por exemplo) ou a poesia de Maiakóvski são absolutamente eloquentes. De outro lado, há o cinema e a arquitetura hitleristas.
Pode-se concluir que o lema "Ars gratia ars" (a arte pela arte), como aparece no leão da Metro, é balela. Grandes artistas, como Michelangelo, Da Vinci, Botticelli, Thomas Mann, Eliot ou Céline (do lado errado) não sabiam bem o que faziam, mas estavam fazendo política.

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