São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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Maio de 68 foi um ato de 'sensualidade' política

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o hoje velho filósofo -e novíssimo cineasta- Bernard-Henri Lévy, em seu livro e série de TV "As Aventuras da Liberdade", tudo aconteceu, pela primeira vez, no final do século passado, com a prisão do oficial francês Alfred Dreyfus.
Acusado injustamente de espionar para a Alemanha, e culpado pela conservadora sociedade francesa pelo simples fato de ser judeu, Dreyfus se torna um caso.
Pela primeira vez um escritor, um pintor ou escultor é convidado a tomar partido e escolher, publicamente, o que é a justiça. E não mais nos gabinetes, mas nas ruas.
Desde então, no país, não houve causa que que não trouxesse para a comunidade artística a necessidade de engajamento.
Em maio de 1968 aconteceria -ao menos para uma geração- a passeata de todas as passeatas, contendo, claro, os cartazes dos cartazes e os slogans dos slogans: "A imaginação no poder".
Daniel Cohn-Bendit, um alemão que estudava na França, com seu desejo de fazer a revolução, promove o caos.
A Universidade de Nanterre é ocupada pelos estudantes, algo que aconteceria também com a Sorbonne. Todos acreditando ser necessário "ousar pensar, ousar falar, ousar agir".
E a ação de todos (da união dos jovens comunistas às centrais sindicais), quando os policias tentavam reprimir as manifestações, era arrancar o pavimento dos bulevares e arremessar as pedras em direção às tropas.
Mas como escreveu o romancista francês Pascal Bruckner, o que aparentava ser uma ação rigorosamente política hoje oferece uma outra leitura.
O que estava em jogo -além da vontade em instaurar um governo revolucionário- era uma outra liberação: a dos corpos que se tocavam por acidente, submetidos à sensualidade das marchas coletivas.

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