São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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Lança mais antiga do mundo pode mudar a história humana

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A descoberta, numa mina de carvão em Shoeningen, Alemanha, da mais antiga e mais bem preservada lança de madeira do mundo é a mais forte evidência de que o homem de Neanderthal foi um caçador mais sofisticado do que se pensava. O estudo, realizado por cientistas do Institut Fuer Denkmalpflege (Alemanha), é publicado hoje na revista "Nature".
A primeira implicação da descoberta é o fato de o design da arma, cuja idade varia entre 380 mil e 400 mil anos atrás, mostrar que o ancestral humano já era capaz de confeccionar instrumentos sofisticados com o propósito de caçar, isto é, já tinha um desenvolvimento cerebral e cultural avançado.
"O achado, descoberto em associação com ferramentas de pedra e destroços de mais de dez cavalos, sugere fortemente que a caça sistemática, envolvendo a previsão, planejamento e o uso de tecnologia apropriada, fez parte do repertório comportamental do homem pré-moderno", disse Hartmut Thieme, autor do estudo.
Muitos cientistas acreditavam que isso não tivesse acontecido até o aparecimento do homem moderno (Homo sapiens), cerca de 40 mil anos atrás e que os neandertais eram principalmente coletores e comedores oportunistas de carne, dividindo-a com outras animais comedores de carcaça.
A descoberta também pode ajudar a explicar a colonização da Europa pelos primeiros hominídeos, escreve Robin Dennel, da Universidade Sheffield (Reino Unido), em comentário na mesma revista.
Há pelo menos 780 mil anos (a mais antiga evidência do homem na Europa, achada em Atapuerca, Espanha), os invernos europeus eram mais rigorosos do que hoje.
Assim, a fixação humana só teria sido possível com a existência de tecnologia voltada para a caça e estocagem rápida do alimento (no inverno, o dia é curto).

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