São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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DIPLOMACIA E EMPREGOS

É conhecida a frase segundo a qual países não têm amigos, têm interesses. Por mais conhecida que seja, não perdeu a validade e serve, à perfeição, para ilustrar as divergências entre o Brasil e os Estados Unidos em torno da constituição da Alca, a gigantesca Área de Livre Comércio das Américas, que envolverá 34 países americanos -com exceção apenas de Cuba.
O interesse do Brasil e, por extensão, do Mercosul é o de evitar que a Alca se transforme em uma anexação pelos EUA de seus vizinhos do Sul, mais pobres e obviamente mais fracos, infinitamente mais fracos.
Por isso, o governo brasileiro vem pondo toda a ênfase no adiamento para o final do prazo de formação da Alca (2005) da negociação em torno do que é realmente relevante, ou seja, abrir os mercados dos países integrantes da nova zona de livre comércio. Faz todo o sentido. Comprometer-se, desde já, a abrir seus mercados significaria, para os países mais pobres, o risco de uma invasão de produtos dos EUA, com as consequências óbvias: ameaça à sobrevivência de setores industriais inteiros, problemas na balança comercial etc.
O interesse norte-americano, em contrapartida, é exatamente o inverso. Ou seja, assegurar para a sua própria produção um mercado que por enquanto ainda é pequeno, mas vem se tornando mais e mais atraente em função da estabilização das economias latino-americanas.
Pode parecer uma questão distante do cotidiano do cidadão comum. Mas o que está por trás de tudo chama-se emprego. Basta lembrar que, em depoimento prestado ao Senado norte-americano no ano passado, Charlene Barshefsky, responsável pelo comércio exterior nos EUA, disse que o governo Clinton, em seus primeiros três anos e meio, criara 11,4 milhões de empregos relacionados à exportação de bens e serviços.
Por isso, é fundamental que a sociedade brasileira acompanhe esse tipo de negociação com toda a atenção. Em um mundo que se globaliza com crescente velocidade, decisões fundamentais para o futuro de cada cidadão não são tomadas apenas nos parlamentos nacionais, mas também nos foros multilaterais.

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