São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Surto de gripe aflige sem-terra

Participantes de marcha dormem ao ar livre

LUIS HENRIQUE AMARAL
ENVIADO ESPECIAL A LEME (SP)

Um surto de gripe atingiu parte dos 600 sem-terra que participam da Marcha Nacional pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça, que saiu de São Paulo e deve chegar a Brasília no dia 17 de abril.
Já foram distribuídos aos doentes 3.000 comprimidos de 500 mg de ácido acetil-salicílico, nome genérico de remédios como a "aspirina".
Um sem-terra conhecido como Assis, de 36 anos, foi hospitalizado com suspeita de pneumonia. No hospital, diagnosticaram gripe.
Eles apontam os alojamentos abertos onde têm passado as noites como culpados pelo surto de gripe.
Segundo o farmacêutico Edimilson Lage Garcia, 33, um dos coordenares da comissão de saúde da marcha, o caso mais grave registrado até agora foi o de um sem-terra que teve uma infecção renal.
Depois de hospitalizado, ele teve que voltar para casa.
Duas mulheres também tiveram que deixar a marcha. Motivo: elas estavam grávidas. Uma delas só descobriu a gravidez depois de passar mal na estrada.
Além da gripe, os sem-terra têm enfrentado muitos casos de disenteria. Eles culpam a água de caminhões-pipa pelo problema.
Para evitar desidratação, estão sendo distribuídos envelopes com sais para reidratação oral. Já foram usados 300 envelopes. Em Sumaré, um sem-terra desidratado desmaiou na marcha e teve que ser hospitalizado com pressão 8 por 4 (o normal seria 12 por 8).
Ambulâncias emprestadas pelas prefeituras das cidades por onde a marcha passa acompanham os sem-terra para emergências.
O problema mais comum enfrentado pelos 16 integrantes da comissão de saúde são as bolhas no pé e torções. Nos últimos dois dias, foram feitos 50 curativos com pomadas cicatrizantes em bolhas estouradas e sob risco de infecção.
Mesmo com os pés machucados pela caminhada, os sem-terra mantém o humor. Quando um deles está recebendo um curativo no pé, é comum outro passar e dizer: "Tá fazendo as unhas, bem?".
Além do farmacêutico Garcia, que trabalhou 22 anos em farmácias e entrou para o MST depois de se separar da mulher e deixar o emprego, a comissão de saúde conta com uma enfermeira que vive em um acampamento do grupo.
Ontem, o café da manhã dos 600 sem-terra foi doado pela Prefeitura de Araras. Eles deixaram a cidade e caminharam 25 km até Leme. Anteontem à noite, grupos de estudantes de escolas da cidade foram conhecer os sem-terra. Foram recebidos com um forró.

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