São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Mais 2 são acusados no caso Heliópolis

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais dois médicos estão sendo investigados pela polícia, suspeitos de integrarem a quadrilha que falsificava atestados de óbito em São Paulo, no caso conhecido como esquema Heliópolis, nome de um hospital na zona sul da capital.
João Carlos Zambom, ex-diretor de Saúde de São Caetano do Sul (no ABCD), e Izilda Moreira Martinez, foram citados por Herbert Martinez, acusado de mais de 90 falsificações, durante depoimento à polícia, na última terça-feira. Ele é acusado de assinar mais de 90 atestados falsos.
Segundo ele, que já foi indiciado, os dois também assinaram atestados de óbito falsos. Izilda, mulher de Martinez, deve depor hoje.
O esquema de falsificação de atestados veio à tona no último dia 21, quando a polícia informou ter descoberto uma quadrilha que oferecia, mediante pagamento, facilidades na liberação do corpo de pessoas mortas por causas não esclarecidas no Hospital Heliópolis.
O pacote incluía atestado de óbito falsificado, liberação do corpo sem a necessidade de autópsia e caixão, com preço acima do mercado. O esquema favorecia funerárias de São Caetano do Sul.
Além da falsificação do atestado, a causa da morte era quase sempre a mesma, independente do motivo real. Nos atestados também constava que o paciente havia morrido no PS Municipal de São Caetano.
Em seu depoimento, Herbert afirmou que a fraude também ocorria nos hospitais do Ipiranga (zona sul), na Beneficência Portuguesa de São Caetano e no PS Municipal de São Caetano. Outros hospitais também estão sendo alvo de investigação.
Segundo a polícia, Martinez afirmou que sua mulher assinou pelo menos dois atestados de óbito falsos no Heliópolis.
João Batista de Souza, advogado de Martinez, diz desconhecer a informação. "Não me lembro do contexto do depoimento do Herbert, porque não houvi inteiro".
Zambom trabalhou no Heliópolis há 15 anos. Segundo o atual diretor do hospital, Abrão Rapoport, naquela época ele teria respondido um processo sob acusação de assinar atestados falsos. Zambom não foi encontrado em seu consultório ontem à tarde.
Outros casos
As investigações são baseadas em casos ocorridos desde janeiro de 95, quando entrou em vigor a lei que permite o transporte intermunicipal de cadáveres, o que, em tese, teria facilitado o esquema.
No entanto, a Folha revelou ontem o esquema já era usado em 85. Por esse motivo, a polícia vai solicitar também prontuários do Heliópolis relativos a anos anteriores.
Ângela Maria da Silva Tucunduva, que disse ter sido assediada pela quadrilha, vai prestar depoimento na próxima semana. A quadrilha teria indicado Martinez para assinar o atestado do seu irmão, que morreu em fevereiro de 93.

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