São Paulo, sábado, 1 de março de 1997
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Ramos diz que pretende voltar a depor na próxima semana

ANA MARIA MANDIM

ANA MARIA MANDIM; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Wagner Baptista Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo e principal suspeito da fraude envolvendo a emissão de títulos públicos, decidiu apresentar-se à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado na próxima terça-feira.
O anúncio foi feito pelo senador Romeu Tuma (PFL-SP) durante a busca que a PF (Polícia Federal) fez no apartamento de Ramos no Royal Ibirapuera Park (zona sul). Na verdade, dois apartamentos reformados para virar um só.
Dentro de um armário, a polícia encontrou um cofre, que foi lacrado. À tarde, a PF havia lacrado outro cofre de Ramos, na agência central do Banespa. Ambos serão abertos com ordem judicial: o do hotel, hoje; o do banco, na segunda-feira, na presença de um representante da Receita Federal.
A busca estendeu-se aos dois apartamentos que Pedro Neiva -ex-assessor de Ramos na Secretaria Municipal das Finanças- tem no mesmo apart-hotel.
Há suspeitas de que Neiva, contratado pela prefeitura em 93 por indicação do prefeito Celso Pitta, seu amigo, também esteja envolvido com irregularidades na emissão de títulos públicos.
Neiva alugou um dos apartamentos para Vitor Hugo Isoldi Melo de Castanho, que trabalhou na prefeitura durante a gestão de Luiza Erundina (1989-1992).
Ramos, Neiva e Castanho eram amigos, segundo testemunho de moradores do apart-hotel, que frequentemente os viam juntos.
Foi para Castanho que Ramos telefonou dizendo que queria apresentar-se à CPI.
Castanho avisou, então, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), integrante da CPI.
Suplicy e Castanho conversaram ontem de manhã no apart-hotel. Suplicy foi para o lugar por causa de uma denúncia de que ali funcionava o escritório de Ramos.
Segundo Suplicy, Castanho garantiu que nada tem a ver com a fraude dos títulos públicos. Sua maior preocupação "é com a saúde e integridade física" de Ramos.
O senador Romeu Tuma disse que a nova disposição de Ramos de colaborar com a CPI tornou dispensável o pedido de prisão preventiva contra o ex-coordenador da Dívida Pública.
Além do cofre no armário de Ramos, a PF encontrou listas com telefones de Miami no apartamento de Neiva. Os telefones serão cruzados, segundo Tuma, com os do banco Merrill Lynch de Miami (EUA), onde Ramos movimentava duas contas, no total de US$ 1,6 milhão.
Um especialista da PF também examinou um computador de propriedade de Castanho, em busca de indícios de movimentação financeira.
Segundo o delegado Fernando Duran, nada foi encontrado no computador vinculado às investigações da CPI. A busca nos apartamentos durou três horas, emcerrando-se às 21h.
Neiva deixou o apart-hotel há duas semanas como se estivesse de férias, segundo moradores. Ramos está fora de São Paulo há sete dias. Foi visto pela última vez por uma vizinha, dois dias depois do depoimento à CPI.
O advogado de Ramos, Marcio Thomas Bastos, o acompanhará no depoimento à CPI.
Segundo Bastos, Ramos deixou sua casa para "resguardar-se" do assédio da imprensa.
O advogado enviou ontem fax ao presidente da CPI, Bernardo Cabral, colocando seu cliente à disposição para novo depoimento.
Bastos foi recomendado a Ramos por amigos. Ligado ao PT, foi advogado de acusação dos assassinos de Chico Mendes. E defendeu o banqueiro Angelo Calmon de Sá no caso do Banco Econômico.

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