São Paulo, sábado, 1 de março de 1997
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Múltis rejeitam o mercado brasileiro

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de patrocínio do futebol brasileiro continua sem conseguir atrair as grandes corporações multinacionais.
Hoje, apenas um grande clube do país é patrocinado por uma empresa estrangeira: o Palmeiras, que tem acordo com a italiana Parmalat desde 1992.
Duas múltis, que apoiavam equipes brasileiras até o ano passado, deixaram o futebol recentemente.
A alemã Basf, que patrocinava o Corinthians através de sua marca Suvinil, e a 7up, marca de americana Pepsi, que tinha contrato com o Botafogo.
O Corinthians passou para o banco Excel Econômico, num contrato superior ao da Suvinil.
O Botafogo ficou abandonado, com a crise financeira que atravessa a Pepsi.
Isso não significa que as grandes corporações estejam desembarcando do futebol profissional. Muito pelo contrário.
Na Europa, vem crescendo rapidamente nos últimos anos o valor dos contratos de patrocínio de times e competições.
A subsidiária européia da americana General Motors, a Opel, patrocina três importantes clubes do continente: o Paris Saint-German (França), o Bayern (Alemanha) e o Milan (Itália).
Fora do mercado
Há várias outros exemplos similares. Mas essas grandes empresas não se aventuram no mercado do futebol no Brasil.
A maioria argumenta que a sua estratégia de marketing não contempla esse tipo de investimento, normalmente devido às características do produto que comercializam.
Muitas empresas relutam por temer o boicote de torcedores de outros clubes.
A Parmalat chegou a sofrer uma ameaça de boicote quando o zagueiro Tonhão limpou sua chuteira com a camisa da Portuguesa.
Nesse caso, o boicote poderia ter impacto nas vendas da empresa, pois envolveria muitos donos de padaria em São Paulo.
O caso acabou sendo resolvido com um pedido público de desculpas do ex-jogador palmeirense, sob orientação da Parmalat.
Esse tipo de escândalo, assim como casos de corrupção nos clubes ou cenas de violência nos estádios, prejudicam ainda a imagem da empresa patrocinadora.
Outro problema é a proibição de patrocínio a clubes que envolva fabricantes e marcas de bebidas alcoólicas.
As cervejarias são tradicionalmente parceiras importantes do futebol europeu.
Mas, provavelmente, o fator mais importante que inibe a participação maior de empresas é a desorganização do futebol brasileiro.
Sem um calendário organizado e uma programação de TV definida com antecedência, fica difícil atrair as verbas publicitárias das principais multinacionais.
Nem clubes nem federações dispõe de números, de pesquisas, que convençam uma empresa a investir num patrocínio.
O grupo Sharp chegou a receber uma proposta de propina de um dirigente do clube com o qual estava negociando.
Sem números
Pela primeira vez este ano o Campeonato Paulista terá um patrocinador oficial, a Coca-Cola e a Kaiser.
O próprio presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, chegou a afirmar, porém, que não sabia o valor da competição.
A negociação inédita atingiu a cifra de R$ 3 milhões, segundo informou a FPF.
A maior parte disso diz respeito a refrigerantes e sanduíches que estão sendo distribuídos aos torcedores que compram ingressos antecipadamente.

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