São Paulo, sábado, 1 de março de 1997
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Dom Oscar, pastor e pai

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

No dia 24 de fevereiro, dom Oscar de Oliveira, aos 85 anos, entregou sua bela alma a Deus. Natural de Entre Rios de Minas -com a única exceção de breve permanência em Pouso Alegre, como bispo auxiliar-, foi pároco, bispo auxiliar e arcebispo de Mariana. Em 1988, já arcebispo emérito, voltou a residir em sua cidade natal, onde aparecia raramente em público e com grande simplicidade de vida dedicava-se ao estudo e oração, acolhendo a todos com extrema amabilidade.
A notícia do falecimento se espalhou rapidamente. Seu corpo foi velado em Entre Rios e acompanhado até Mariana, onde o povo o aguardava por longas horas, na praça da Sé, sob a chuvinha da noite. Durante a madrugada, sucederam-se os fiéis, rezando com fervor. A celebração das exéquias contou com o comparecimento de oito arcebispos e bispos, sacerdotes, seminaristas e todo o povo de Deus, com a presença de autoridades do Estado e dos municípios da arquidiocese. Era a hora da gratidão e da merecida homenagem ao ilustre e amado arcebispo de Mariana, durante 28 anos.
Em seu testamento revela seu desapego e pobreza pessoal, tendo doado seus recursos para o seminário e o hospital de Entre Rios. Seu legado espiritual se manifesta na comovente e vigorosa afirmação: "Amei a igreja"; desde a adolescência amou e serviu a igreja com ardor e total devotamento.
Doutor em direito canônico pela Universidade Gregoriana, dedicou-se sempre ao ensino no Seminário de Teologia. Eminente literato com especial pendor pela poesia, pertencia à Academia Mineira de Letras. Publicou livros e milhares de artigos pregando a palavra de Deus e aprofundando temas da teologia, história e arte.
Sempre se manifestou homem de fé, pastor zeloso e pai, desejoso de anunciar Jesus Cristo, venerar a Virgem e difundir a doutrina da igreja. Tornou-se mais conhecido, em 1963, pela sua Carta Pastoral, alertando o país sobre o comunismo. Seu interesse pela educação e cultura reflete-se na criação de colégios em Entre Rios, Congonhas e Mariana, na fundação do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, na reforma do valioso órgão da Sé, na organização do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese, da coleção de música barroca, da biblioteca de livros antigos. Ofereceu terreno e prédio em Mariana para o Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Ouro Preto.
Pai e pastor de todos, teve especial predileção pelos pobres, acolhendo-os com paciência e generosidade e doando terras da arquidiocese para assegurar alimento, moradia e trabalho a muitas famílias. Era incansável na visita às comunidades e 125 paróquias.
Ao visitar dom Oscar, nos últimos anos, percebia que, com a sabedoria da idade e o coração repleto de afeto, amava recordar fatos de sua vida pastoral. Notei, no entanto, que nunca se queixava de nada e referia-se às pessoas lembrando-se somente das virtudes e qualidades. Com o olhar de bondade e paz, dizia-se preparado para o encontro com Deus. Foi digna a homenagem prestada pelo povo agradecido ao querido pastor, na manhã de 25 de fevereiro. Seu corpo, cercado pelos familiares e pelos 200 sacerdotes, desceu à cripta da Sé de Mariana. Mais bela ainda terá sido a acolhida festiva na casa do Pai. "Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor".

Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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