São Paulo, domingo, 2 de março de 1997
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Estrelas sobre rodas

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Reza a lenda que, nos seus tempos de estrela maior do cinema mudo, Gloria Swanson ia até os estúdios da Paramount em seu próprio vagão de trem, cujos trilhos saíam do quintal de sua mansão.
Realidade ou não, a locomoção de celebridades sempre foi um bom pretexto para páginas e páginas das revista de fofocas, dos anos 20 até hoje.
Embora os vagões de trem fossem, no Brasil, privilégio apenas do presidente, os luminares da nossa TV sempre apresentaram seus possantes automóveis para os fãs com orgulho incontido.
Zélia Hoffmam andava de Karman Ghia, o carro do momento. Francisco Carlos, o "rei dos brotos" arrasava com as faixas brancas dos pneus de seu Dodge azul claro.
Carlos Galhardo, depois de cantar que "Nem todo mundo era filho de Papai Noel", achou dentro da meia um Lincoln conversível. Conhecido como "o caricaturista do samba", Jorge Veiga, doutor de anedota e de champanhota, tinha um Plimouth.
Cesar Ladeira e Renata Fronzi circulavam elegantemente num Cadillac marrom escuro.
Quem também adorava um Cadillac era Linda Batista. Tinha fama de excelente motorista e, na única vez em que bateu seu carro, desceu do veículo para ver o estrago e ouviu de um sujeito que passava por perto: "Que Linda Batista". Dizem que chegou a ter 11 Cadillacs de cores diferentes de uma só vez.
Aliás, foi Linda Batista quem vendeu o primeiro carro para Nora Ney, um Dodge verde, que a lançadora do rock-and-roll no Brasil usava pra lá e pra cá até que seu marido, Jorge Goulart, se recuperasse do susto que teve quando seu carro bateu num lotação, no Rio de Janeiro.
Emilinha Borba ganhou um carro no concurso "Rainha do Rádio de 1953". Mas não sabia dirigir. Então só andava de táxi, para decepção de seus fãs que queriam ver sua rainha num carro melhor do que o de sua eterna rival, Marlene. Essa atendia os fãs, enquanto seu marido, Luiz Delfino, estacionava seu cupê.
Ao mesmo tempo em que Hebe Camargo circulava de Impala pelas ruas do Sumaré, Wilma Bentivegna trocava seu Cadillac por um Aero Willys.
Erasmo Carlos tinha um Rolls Royce, Wanderléa e Roberto Carlos tinham cada um o seu infalível Cadillac. Mas o da Ternurinha era a prova de balas.
Hoje em dia, com o trânsito em estado desesperador, essas estrelas não poderiam mais circular com suas banheiras pré-históricas.
Mais certo seria seguir o exemplo de Gloria Swanson e ir de trem -mas, no nosso caso, trem do metrô. Ou, como diria Angélica (ou seria Xuxa, Eliana, Mara ou qualquer apresentadora infantil): "Vou de táxi".

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