São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Presos acusados de vender atestado de óbito

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sete pessoas foram presas ontem em flagrante sob acusação de formação de quadrilha, corrupção ativa e falsidade ideológica.
Segundo a polícia, elas vendiam atestados de óbito para acelerar enterros e evitar a autópsia.
Entre os presos estão o cardiologista Cyrilo Viana de Oliveira, que trabalha no PAS do Campo Limpo e no Hospital Regional de Osasco, o funcionário do IML de Osasco João Wilson Camilo e cinco pessoas ligadas à Funerária Souza, de Carapicuíba (Grande São Paulo) -Sérgio de Sousa e Álvaro Luis de Sousa (proprietários), Nelson Araújo de Oliveira, Heloísio Gonçalves de Oliveira e José Santos Silva (funcionários).
Eles foram descobertos a partir da morte da dona-de-casa Nair Mendes de Silva Souza, 75. Segundo parentes, ela morreu de infarto às 5h de anteontem.
Como toda pessoa que morre fora de um hospital ou sem acompanhamento médico precisa de um atestado de um órgão oficial, a família foi até o IML, onde chegou por volta do meio-dia.
Lá, segundo a polícia, a família teria sido abordada por um homem (ainda não identificado), que disse que poderia facilitar a liberação do corpo para o enterro sem a necessidade da realização da autópsia. O custo desse "serviço" seria R$ 1.400.
Ainda segundo a polícia, o homem tinha impressos de atestados de óbito em branco com a assinatura do cardiologista Cyrilo.
O corpo de Nair foi liberado no início da tarde pelo funcionário do IML João Wison Camilo, um dos presos ontem.
Investigação
O golpe foi descoberto porque a polícia mantinha um investigador de plantão no IML de Osasco.
Ele trabalhava com a informação de que funcionários daquele IML e a Funerária Souza também estavam no esquema de falsificação de atestados de óbito, que começou a ser investigado dia 21 do mês passado e já indiciou médicos do Hospital Heliópolis (zona sul de São Paulo) e funerárias de São Caetano do Sul.
O policial teria achado estranha a rapidez na liberação do corpo de Nair. Procurou a família, que afirmou que a Funerária Souza havia facilitado o serviço.
A polícia prendeu Eloísio e Nelson, que estavam na funerária. A partir deles, chegaram aos proprietários do estabelecimento.
Depois, foram ao escritório de advocacia de um dos sócios da funerária, Álvaro, onde encontraram uma pasta com cerca de 17 recibos, nomes de funcionários de outros hospitais de São Paulo e anotações que seriam comissões pagas a esses funcionários, com valores que variam de R$ 50 a R$ 200.
Na pasta, também foram encontrados seis impressos de atestados de óbito em branco, assinados pelo médico Cyrilo e recibos, assinados por José Santos Silva.
A partir da mesma pasta, chegaram ao funcionário do IML João Wilson Camilo, que foi teria facilitado a liberação do corpo de Nair.

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