São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Entenda o caso da clone Dolly

DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de clonar o ser humano, isto é, produzir uma cópia idêntica sem que haja reprodução sexuada, voltou a ser debatida desde a semana passada, quando cientistas escoceses publicaram estudo onde mostram como conseguiram fazer o primeiro clone de um mamífero -a ovelha Dolly- a partir de uma célula não reprodutiva. Eles usaram o núcleo de célula de glândula mamária de uma ovelha adulta.
O núcleo das células contém o material genético (DNA), o "gerente" que comanda as funções celulares, entre elas, a sua divisão.
O que a equipe escocesa fez foi transferir um núcleo de célula mamária para um oócito (célula precursora do óvulo) que teve o seu núcleo retirado.
Essa nova célula foi implantada no útero de uma ovelha "mãe de aluguel". Meses depois, nasceu Dolly, uma ovelha quase geneticamente idêntica à mãe verdadeira, da qual havia sido retirado o núcleo da célula mamária.
Em tese, uma das grandes inovações apresentadas pelo estudo foi o uso de uma célula diferenciada. Células diferenciadas, como o caso da mamária, são aquelas que já se especializaram em uma determinada função.
A grande novidade é que essas células parecem ter uma espécie de "memória" , guardando informações do tempo em que ela ainda era uma célula de embrião, ou seja, uma célula não especializada.
Graças a essa espécie de memória foi possível "reconstruir" o animal inteiro a partir da célula mamária. Caso contrário, ela só originaria células mamárias.
Alguns cientistas já pensam em usar a técnica para recuperar animais ameaçados de extinção, como os ursos panda. Outros pesquisadores alegam que isso vai impedir a variabilidade genética.
E por que isso é tão importante? Porque é o "embaralhamento" do material genético, promovido pela reprodução sexuada, que permite a diversidade entre os seres vivos.
No caso de uma possível clonagem do ser humano, há, segundo os cientistas, um problema ético, já que a técnica poderia ser usada para, por exemplo, promover a cópia de alguns indivíduos e raças em detrimento de outras.
Mas há um detalhe importante. Ainda que geneticamente idênticas, duas pessoas jamais seriam "tão idênticas". Basta lembrar as aulas de genética: genótipo não é igual a fenótipo. Genótipo é a carga genética de um indivíduo, herdada dos pais. Fenótipo é a "aparência" do indivíduo, resultado da interação entre o genótipo e das condições ambientais.
Um bom exemplo são as experiências feitas com gêmeos idênticos, que possuem a mesma carga genética, criados em diferentes ambientes. Não são iguais, claro.

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