São Paulo, segunda-feira, 3 de março de 1997
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Greenaway quer reinventar o cinema

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

"Chegou o momento de reinventar o cinema, para que este deixe de ser uma cópia do teatro, da literatura e da pintura", afirmou em Madri o diretor inglês Peter Greenaway, no lançamento de "Livro de Cabeceira".
Na opinião de Greenaway, "até agora, o cinema tem sido apenas um prólogo que sofre da síndrome de 'Casablanca', dando mais importância ao texto que às imagens, por isso está moribundo e carente de inovações."
Depois de sete produções, Greenway filmou no Japão "O Livro de Cabeceira", inspirado em um milenar livro japonês em que a autora, Sei Shonagun, relata a história de um antigo calígrafo que utiliza o corpo de uma bela mulher como folha de papel. O roteiro adaptou a história para os dias atuais.
O diretor, que começou sua carreira como pintor, ficou fascinado pelo livro e pela caligrafia japonesa, que o permitiu "falar por meio de códigos de cores e números."
Seu cinema gera sempre polêmica e Greenaway está consciente disso, mas insiste investir em inovação, abrindo mão da comercialização. "Quando se introduz uns 20% de inovação, pode-se perder cerca de 80% de público", diz Greenaway.
"Quero romper com as quatro tiranias imperantes no cinema: atores, texto câmera e ensaio, para tentar chegar a um equilíbrio entre imagem e conteúdo."
Seu interesse pela linguagem se baseia na idéia da íntima relação existente entre a escrita e o corpo. "Os filósofos franceses sempre a relacionaram com o pensamento, que desce pelo braço e chega até a caneta, algo que agora os computadores destruíram", fala.
Vinte e sete línguas aparecem escritas pelos corpos no filme de Greenaway, mostrando a importância que a linguagem tem para o diretor, um lutador contra "a colonização dos Estados Unidos e a posição da língua inglesa como idioma universal".
O otimismo de Greenaway o faz notar um renascimento do cinema. "Há muito potencial e isso poderá ser visto, sobretudo, quando a geração do videogame começar a fazer filmes."

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