São Paulo, terça-feira, 4 de março de 1997
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Governo trocou 6.000 cargos por 1 voto

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma promessa feita pelo ministro Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração e Reforma do Estado), em entrevista gravada para a TV Amapá, em 28 de janeiro, garantiu o voto do deputado Eraldo Trindade (PPB-AP) a favor da emenda da reeleição.
A Folha teve acesso à fita em que ficou registrado o compromisso assumido pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Bresser promete que não serão demitidos 6.000 servidores federais do Amapá que não têm estabilidade.
"Estamos contando com uma emenda constitucional que nós propusemos, em acordo com representantes dos ex-territórios, que vai regularizar a situação dos atuais funcionários, que têm situação relativamente irregular, para que assim não haja demissão nenhuma", disse Bresser.
O ministro afirmou que o TCU (Tribunal de Contas da União) chegou a determinar um número grande de demissões nesses casos. Mas acrescentou: "Isso, felizmente, foi suspenso".
Antes de iniciar a entrevista, o repórter da TV Amazônia relata ao ministro o acordo feito entre Trindade e FHC, na presença do ministro Francisco Dornelles (Indústria, Comércio e Turismo), e pede uma declaração de Bresser.
A manutenção dos 6.000 servidores representa um gasto mensal de R$ 12 milhões para a União.
Indeciso
Trindade se declarava indeciso em relação à emenda da reeleição. Foi ao Palácio do Planalto, dia 27 de janeiro, levado por Dornelles, e disse que poderia justificar o apoio à emenda se o governo garantisse a manutenção dos servidores.
Segundo relato do deputado, FHC telefonou para Bresser e pediu providências nesse sentido. No dia seguinte, Trindade pediu a Dornelles uma garantia de que a promessa seria cumprida. Exigiu a gravação da entrevista.
Bresser aceitou fazer a gravação ao fim da tarde, horas antes da votação. O deputado foi ao plenário e disse "sim" à emenda que permite a reeleição de FHC, mesmo contra a orientação de Paulo Maluf.
A entrevista foi veiculada na TV Amapá, filiada à Rede Globo. O deputado disse que convenceu o governo ao dizer que a demissão de 6.000 dos 10 mil servidores do Amapá quebraria o Estado.
A Folha entrou em contato com a assessoria de imprensa do ministro Bresser e informou sobre o conteúdo da reportagem. A assessoria disse que o ministro estava em Curitiba e forneceu o número do telefone celular do seu assessor de imprensa. O celular estava fora de área ou desligado.

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