São Paulo, terça-feira, 4 de março de 1997
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Na CPI, Ramos dirá que Pitta sabia das operações

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Wagner Baptista Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo, pretende dizer, em seu segundo depoimento na CPI dos Precatórios, que o prefeito Celso Pitta sabia da assessoria que ele prestava a Estados e municípios para operações de venda de títulos.
Segundo a Folha apurou, Ramos deve dizer ainda que o atual prefeito paulistano sabia do contrato que ele mantinha com a corretora Perfil, intermediária na venda de títulos. A Folha apurou que Ramos pretende dizer que Pitta tinha conhecimento de toda a sua atividade na operação dos títulos.
Além de coordenar a Dívida Pública paulistana, Ramos prestou assessoria aos governos de Santa Catarina e Pernambuco e prefeituras de Osasco e Guarulhos, na negociação dos títulos. Em seu primeiro depoimento na CPI, disse apenas que Pitta autorizara as operações da Prefeitura de São Paulo.
A data para o novo depoimento não está marcada -pode ser ainda esta semana ou na próxima. Ramos já definiu a linha de defesa que adotará diante dos senadores que apuram suspeitas de irregularidades na venda desses títulos, inclusive pela prefeitura paulistana.
Ramos vai dizer que não é o cérebro dessa operação. Segundo a CPI, pode ter havido desvio de R$ 600 milhões em dinheiro público de um total de R$ 6 bilhões de negócios feitos com a venda de títulos destinados ao pagamento de precatórios (dívidas judiciais).
No caso de São Paulo, as operações representaram mais de R$ 10 milhões de prejuízos para os cofres do município. Na época, Celso Pitta era secretário das Finanças da administração Paulo Maluf (1993-1997). Wagner Ramos era subordinado diretamente a Pitta.
Ramos também está inclinado a reconhecer que mentiu em seu primeiro depoimento à CPI, no último dia 19. Naquela oportunidade, contou ter recebido apenas US$ 150 mil (R$ 157,6 mil) para prestar assessoria à Perfil com títulos de Pernambuco.
O ex-coordenador da dívida pública de São Paulo vai dizer que recebeu o total de US$ 1.050.000 (R$ 1.104.000) de comissões pelas operações -uma de US$ 150 mil e outra de US$ 900 mil (R$ 946,4 mil). Dirá que tem US$ 1.041.000 no banco Merrill Lynch, dos EUA.
Na semana passada, foi divulgada informação de que Ramos tinha US$ 1,6 milhão depositados na agência do Merrill Lynch de Miami (EUA). Ele está disposto a autorizar a emissão de extratos para que a CPI comprove que há ali apenas US$ 1.041.000 depositados.
Demitido da prefeitura na última sexta-feira, o ex-coordenador da Dívida Pública de São Paulo vai tentar regularizar a situação desse dinheiro junto ao Imposto de Renda. Como o depósito foi feito no ano passado, ainda há tempo para declarar esse valor.
Ramos nega informação dada ontem à Folha por Fábio Nahoun, presidente do Banco Vetor, de que ele havia recebido R$ 26 milhões pela assessoria prestada para a venda dos títulos. O Vetor é um dos dois bancos envolvidos nas suspeitas de irregularidades.
O Vetor sofreu liquidação do BC por causa de sua participação nessas operações. Além dele, 14 instituições financeiras -incluindo a corretora Perfil, para quem Ramos trabalhava -também tiveram suas portas lacradas pelo BC.
Ramos está consciente dos riscos que corre ao prestar seu segundo depoimento na CPI. Mas já decidiu que, mesmo mantendo uma linha de defesa, vai falar tudo o que sabe. Tem dito a amigos que não aceitará o papel de "bode expiatório".

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