São Paulo, terça-feira, 4 de março de 1997
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Uma farsa escandalosa

JANIO DE FREITAS

A confusão criada pelos senadores que transformaram a CPI dos Títulos Públicos em vitrine pessoal, no melhor caso, e em arma pesada contra seus adversários políticos, ou adversários do governo federal, já impossibilita que seja levada a sério qualquer das suas declarações e supostas conclusões. É no meio desta balbúrdia proposital que surge, agora, o confronto entre a possível ampliação temática da CPI, para investigar todo o sistema financeiro, ou sua permanência nos limites atuais. A hipótese de ampliação, na verdade, não ganhou impulso por ação da CPI. Quem o deu foi Fernando Henrique Cardoso, em um programa do jornalista Ricardo Boechat na sexta-feira.
O requerimento de CPI para o sistema financeiro, aprovado em 96, não teve resultado prático porque Fernando Henrique mobilizou seus apoiadores para impedir a investigação. Perguntado, no programa, sobre a hipótese de ampliação da CPI dos Títulos, deu a resposta mais simpática: opôs-se à proposta anterior por entender que o alvo seria o seu governo, mas, se quiserem investigar agora o sistema financeiro, não se oporia.
Na mesma sexta-feira, quis as lideranças governistas no Senado armando logo a barragem contra a investigação do sistema financeiro. "O presidente acha desnecessária uma CPI do sistema financeiro", comunicava o porta-voz Sergio Amaral. Mesmo como hipótese remota, porém, a ampliação já se tornara útil ao exibicionismo de uns e à prestação de mais serviço ao governo, por outros.
Nem o que se passou dentro do próprio Senado, no entanto, pode ser explicado consistentemente pelos condutores da CPI. Quem e o que motivou o senador Gilberto Miranda, representante do Amazonas, a se interessar pelos cofres da Prefeitura de São Paulo, a ponto de interceder para mudar um parecer do Banco Central? Como e por que a autorização pedida pela Prefeitura, para lançar R$ 24 milhões em títulos, resultou em autorização do Senado para mais de meio bilhão?
Ainda quanto à participação do Senado, nada foi investigado sobre a atitude do senador Beni Veras, do PSDB do Ceará, que deu o mais veloz parecer em favor de uma operação financeira imensa. Logo ele, tão obcecado com a redução dos gastos públicos que, em parecer de agora, não vacila em propor, a título de reforma da Previdência, condições ainda mais indignas para aposentados de hoje e do futuro. Os dois senadores estão calados sobre seus feitos, com a proteção dos colegas da CPI, como se nada tivessem com as raízes mesmas do escândalo.
Toda a lambança que emerge com os títulos públicos é mais um prova, embora não se precisasse de mais, da necessidade de investigações que alcancem todo o sistema financeiro e o Banco Central. Mas depois que os senadores da CPI -em especial, os catarinenses Vilson Kleinubing e Esperidião Amin e o paranaense Roberto Requião- voltem-se mais para objetivos sérios da investigação devida e menos para as câmeras e o peito dos seus adversários na província.
Clóvis Rossi
Mencionado aqui, com base em trecho de um artigo seu, como "simpatizante confesso da reeleição de Fernando Henrique Cardoso", Clóvis Rossi esclarece ser favorável ao direito de reeleição, sem por isso identificar-se como simpatizante da reeleição de Fernando Henrique. O trecho, a seu ver, foi mal lido por mim, que não lhe captei a ironia.
O mesmo aconteceu a outros leitores fiéis de Clóvis Rossi, aos quais o seu artigo de hoje proporciona esclarecimento pormenorizado -e de teor nada surpreendente em um jornalista tão ético.
Até logo
Esta coluna deixa de ser publicada a partir de amanhã, aproveitando o direito de férias enquanto o governo ainda está mordendo só os salários e as aposentadorias.
Bom proveito, leitor.

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