São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
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Alerta do Fed não esvazia Bolsa de NY

Dow Jones sobe 7% em dois meses

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investidores de Wall Street parecem decididos a ignorar solenemente as advertências do presidente do Fed (banco central dos EUA), Alan Greenspan, que vê excesso de otimismo no comportamento do mercado de ações de Nova York.
Apesar de a primeira reação aos alertas de Greenspan ser de recuo das cotações, os preços sistematicamente se recuperam.
Pelo menos é essa a impressão que fica quando se compara o desempenho da Bolsa de Valores de Nova York neste início de ano com o do mesmo período de 96.
Segundo a consultoria Economática, nos meses de janeiro e fevereiro de 97 o Dow Jones, que acompanha as principais ações industriais, subiu 7,4%. No mesmo período de 96, a alta foi de 7,2%.
Ocorre que o crescimento do início deste ano parte de uma base bastante superior à do início de 96. Isso porque ao longo de todo o ano passado o Dow Jones acumulou uma valorização de quase 30%.
Juros
Não por outro motivo, Greenspan tem dado sinais de que pode vir a aumentar os juros praticados pelo Fed, o que tiraria fôlego dos ativos de risco, como as ações, e tornaria mais atraente o investimento em papéis de renda fixa, como os títulos da dívida do governo norte-americano.
A alta dos juros teria ainda o efeito de aumentar o custo do consumo e do investimento, o que tende a reduzir os lucros das companhias e, por tabela, os preços das ações negociadas em Bolsa.
No entanto, a situação não é tão simples assim, nem o processo é tão mecânico quanto pode parecer à primeira vista.
Fatores econômicos
Por exemplo, segundo a avaliação de um operador de um banco internacional, dificilmente o Fed mexeria nos juros apenas para conter o ânimo de Wall Street.
"O Fed vai aumentar o juro quando tiver razões econômicas", diz. Ou seja, quando realmente houver a possibilidade de alta dos índices de inflação, atualmente na casa de 3% ao ano nos EUA.
Em seu depoimento de ontem no Congresso dos EUA, Alan Greenspan preferiu se concentrar nos gastos do governo com a Previdência Social, considerados excessivos pelo executivo do Fed.
Ele criticou a metodologia do Índice de Preços ao Consumidor dos EUA, que estaria inflacionado.
Como esses índices corrigem os benefícios sociais, os gastos do governo também estariam sendo corrigidos em excesso.
Na avaliação do presidente do banco central dos EUA, esse exagero no cálculo do IPC seria de 0,5% a 1,5% ao ano.
Com isso, o governo norte-americano estaria gastando de US$ 1 bilhão em benefícios a mais, por causa da superavaliação do IPC.
Cenário
Ainda em seu depoimento no Congresso, Greenspan afirmou que o cenário mais provável para a economia norte-americana é de crescimento da economia aliado à inflação baixa.
"É crucial controlar a inflação no curto prazo para conseguir a estabilidade dos preços no longo prazo", afirmou.
'Não era a minha intenção'
Perguntado por um deputado norte-americano sobre as suas recentes declarações sobre o excesso de otimismo nas Bolsas e pelo fato de seu depoimento ter derrubado os preços nos principais mercados do mundo, Greenspan respondeu:
"Não era essa a minha intenção. São mercados internacionais muito complexos, ninguém pode influenciá-los de forma decisiva".
"O que tentei fazer quando falei em dezembro e na semana passada foi mostrar os diferentes elementos que examinamos para definir uma política monetária", disse.
Ontem, Wall Street operava em baixa de 1%, no início da tarde, mas o movimento trata apenas de "queimar" a alta do dia anterior.

Com agências internacionais

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