São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
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Turno e returno é o sistema próximo do ideal

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esconjuro, sai pra lá, longe de mim, se passei a idéia de que considero o "mata-mata" como uma fórmula ideal de disputa de campeonato, ou mesmo compatível com a cultura do nosso torcedor.
Aliás, lembrou bem aqui o Matinas, ontem, quando disse que qualquer parâmetro se diluiu nos anos e anos de sandice desses sistemas de disputas longas, tediosas, classificatórias, onde o interesse real pela competição se concentra apenas na fase decisiva.
Na verdade, o "mata-mata" privilegia demais o imponderável, o acaso, as circunstâncias. E futebol é, sobretudo, um jogo de equilíbrios, seja na estratégia armada fora do campo, seja na disposição anímica dos jogadores ou na tática determinada para cada partida. Não é à toa que a balança representa a justiça.
Na busca dessa justiça, sem dúvida o turno e returno é o sistema mais próximo do ideal, embora o imponderável e as circunstâncias estejam sempre presentes, por graça dos deuses, nesse caprichoso jogo da bola.
Tanto, que foi a fórmula inventada desde os primórdios do futebol, e que subsiste com êxito, por exemplo, em toda a Europa até hoje.
Entre nós, também, até o limiar dos anos 70, quando um novo elemento se introduziu nos campos, em suas duas vertentes: o marketing político e o marketing publicitário.
O político foi avassalador, em suas várias facetas. Para a Arena ganhar o jogo eleitoral, Heleno Nunes, presidente da então CBD e do partido oficial na Baixada Fluminense, inchou e desfibrou o Campeonato Nacional, sob o famigerado slogan: "Onde a Arena vai mal, um clube no Nacional".
E, para se manter no cargo, com o advento do voto único (todos os clubes eram iguais na hora da escolha do presidente de sua federação), os presidentes das entidades estaduais, mais que ampliar seus certames domésticos, usaram e abusaram da fórmula classificatória, um estúpido expediente para manter os pequenos (maioria eleitoral) jogando contra os grandes (fonte de renda) o maior tempo possível.
Já o marketing publicitário foi-se infiltrando aos poucos, transpondo as barreiras armadas pelo político que o olhava de viés, como um futuro inimigo que trazia no bojo uma carga suspeita de modernidade. E é este que começa a dar as cartas hoje, duas décadas depois.
Tanto, que, enquanto os campeonatos cariocas, divididos em Taça Guanabara, primeiro e segundo turnos, com os campeões de cada um desses torneios disputando um supercampeonato, lotavam o Maracanã, em São Paulo a média de público despencava.
Foi quando José Ermírio de Moares, presidente da FPF, resolveu instituir a disputa do título entre os campeões de cada turno. Pronto, a resposta foi imediata, um alento.
O que quero dizer, em suma, é que não devemos ter medo de experimentar, respaldados em experiências passadas.
Indiscutível é apenas isto: esse sistema classificatório, além de injusto, é chato. O resto deve rolar na mesa dos debates.

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