São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
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Crer ou não crer

DA REDAÇÃO

"Suspeita" (TNT, 15h45) já foi descrito como um embate entre o casal e a suspeita que o destrói.
Mas, antes disso, talvez seja um dos mais perfeitos exercícios formais feitos por Alfred Hitchcock. O casamento de uma mulher com um homem quase desconhecido desencadeia o tom paranóico que se segue.
E Hitchcock dedica-se a construir o crescendo dessa paranóia com perfeição, até chegar a seu momento máximo: quando vemos Cary Grant subir uma escada, levando um copo de leite para Joan Fontaine e não sabemos (tanto quanto ela) se está envenenado ou não.
Como sempre em Hitchcock, tudo é uma questão de fé. A angústia fundamental do homem consiste em acreditar ou não acreditar (em Deus ou no marido). Na zona intermediária instala-se a dúvida como pesadelo. O que nos faz distinguir um copo de leite envenenado de um não envenenado, a não ser a crença?
Quem ligar a TV à tarde na TNT, aliás, não perde viagem. Logo depois de "Suspeita" entra "Casablanca" (17h30). A dúvida também é um aspecto central do filme, mas não no estado quase abstrato em que é trabalhada por Hitchcock.
Há guerra, paixão, traições, baixeza e nobreza, crença e cinismo. Nem sempre sabemos o que é um e o que é outro. Mas o resultado é um dos mais populares clássicos do cinema.

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