São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAÍS MAL-EDUCADO

A má qualidade da rede pública de ensino e a alta dos custos da educação privada colocam um pesado ônus financeiro às famílias de renda média. Ademais, comprometem as chances de avanço social das crianças pobres, sujeitas a um ensino de baixa qualidade. Causam, assim, enormes danos ao potencial de desenvolvimento do país. A educação, que deveria ser estimulada, hoje é cara ou ruim, quando não ambas.
Entre julho de 94 e janeiro último, o custo de mensalidades, matrículas, material escolar e livros didáticos aumentou 114% contra uma inflação de 62%, segundo dados da Fipe.
Ao longo de 20 anos da educação de um filho em estabelecimentos privados, os gastos com pagamento de escolas e faculdade equivalem, na data de formatura, a R$ 160 mil, no caso de um curso superior de menor duração. Chega a R$ 205 mil quando se trata de uma formação universitária mais cara. Esses cálculos, publicados domingo por esta Folha, consideram a capitalização das mensalidades a juros reais de 0,5% ao mês.
Os elevados gastos da classe média com educação são o reverso do descaso em relação à escola pública, em que se encontram, em sua maioria, crianças de famílias de menor poder aquisitivo. Se o ensino gratuito fosse de melhor qualidade, haveria maior competição e, previsivelmente, menores preços na rede particular.
O contraste entre a precariedade da rede básica e a melhor qualidade das universidades públicas atua, ademais, como um mecanismo de transferência de renda dos mais pobres para os de faixa mais elevada. Sem acesso a boas escolas, a criança de menores recursos encontra-se em posição desvantajosa para competir por uma vaga nas universidades estaduais e federais. E essas instituições absorvem grande parte das verbas destinadas ao setor.
No Brasil, infelizmente, as prioridades ainda estão invertidas. É preciso que não apenas o destino dos recursos públicos seja revisto como também sejam combatidos os habituais desperdícios que atingem, entre outros setores, a educação.

Texto Anterior: MAIS DÍVIDAS
Próximo Texto: O DESAFIO URBANO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.