São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Boeing e Electra

JUCA KFOURI

Quando a Ponte Aérea Rio-São Paulo trocou, no começo dos anos 90, seus velhos aviões Electra pelos modernos Boeing não fez pesquisa para saber o que seus passageiros achavam. Tivesse feito e talvez o resultado desencorajasse qualquer mudança. Afinal, os heróicos Electra eram seguros e simpáticos. Por que mudar?, perguntariam os passageiros, acostumados com o antigo companheiro de viagem.
O mesmo fenômeno se dá em relação aos campeonatos estaduais, arraigados na tradição cultural de nosso futebol, embora estejam para o Electra, no paralelo com a aviação, assim como os campeonatos nacionais estão para o Boeing.
Pergunte hoje em Congonhas e no Santos Dumont se alguém quer trocar o Boeing pelo Electra. Dá 100% de não.
Situação parecida acontece em relação ao tema das fórmulas de nossos campeonatos. Turno e returno com pontos corridos ou mata-mata, com grupos, fases classificatórias, finalíssimas etc.?
Aqui é preciso recorrer à história.
Foi em 1969 que, pela primeira vez, o Campeonato Paulista adotou uma fórmula diferente do mundialmente consagrado sistema de turno e returno com pontos corridos. Era um jeito de impedir que o Santos fosse campeão com muita antecedência, como no ano anterior, quando foi bi com 11 pontos à frente do vice-campeão.
Mas assim mesmo o time de Pelé ganhou o tri e voltou-se ao modelo clássico até 1973, quando se decidiu que os campeões de cada turno se enfrentariam num jogo final. O Santos ganhou o primeiro turno, desinteressou-se pelo segundo e foi excursionar. Acabou decidindo o título com a Portuguesa, quando ganhou nos pênaltis, mas não levou sozinho, porque Armando Marques errou na contagem e a taça foi ridiculamente dividida, talvez num castigo dos céus por terem mexido no que estava certo.
Casa arrombada, a partir de 1974 virou a mixórdia que vigora até hoje, razão pela qual as novas gerações não sabem avaliar como era melhor o sistema antigo, principalmente porque alguém inventou que brasileiro gosta só de jogos que decidem, como se não fossem decisivas todas as partidas em turno e returno com pontos corridos.
Na verdade, o que começava a cansar o torcedor não era o sistema de pontuação e sim o próprio campeonato estadual.
E nosso futebol trocou o Boeing pelo Eletra.

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