São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Futebol brasileiro carece de choque capitalista

LUIZ AUGUSTO VELOSO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Será mesmo que o principal problema do futebol brasileiro está apenas na falta de bons profissionais? Penso que não.
São Paulo, Palmeiras, Flamengo ou Grêmio já possuem, em seus departamentos de futebol, estruturas gerenciais altamente profissionalizadas.
Mais do que isso, Flamengo e Vasco da Gama, por exemplo, também se estruturam magnificamente nas categorias de base desse esporte, produzindo, ano a ano, jovens talentos para seus elencos.
O futebol brasileiro carece urgentemente, isso sim, de um choque de capitalismo na forma de propriedade de suas entidades.
Nossos clubes, na verdade, precisam de dirigentes capitalistas, que busquem lucro, que sejam responsáveis pelos eventuais prejuízos de suas administrações e que pensem o futebol como um negócio situado no cenário cada vez mais multimilionário do "entertainment".
O conflito atual entre dirigentes amadores e executores profissionais atingiu um estágio de saturação que precisa ser vencido já, sem o que, a definição de um calendário mais organizado- com o suporte indispensável de marketing profissional-, por exemplo, não implicaria em qualquer mudança de fundo na realidade precária da grande maioria de nossos clubes.
Estou convencido de que o futebol está maduro para sofrer mudanças radicais que viabilizam um novo ciclo de seu desenvolvimento.
A partir da transformação dos clubes em empresas, julgo também inadiável o estabelecimento de controles permanentes externos aos clubes para controle de seus orçamentos, por meio do acompanhamento rigoroso de seus balanços financeiros. Tal procedimento deveria ter a participação, inclusive, de representantes da Receita Federal e da Previdência Social.
A cada temporada, os clubes deveriam ser auditados. Na Itália, por exemplo, sem a autorização do organismo desse tipo, um clube não pode disputar competições oficiais.
Um dos principais instrumentos de regulação do mercado esportivo profissional americano deveria ser paulatinamente incorporado também no futebol, e aí, em nível internacional, o "salary cap". Todos os times teriam limites orçamentários definidos, respeitados compulsoriamente.
Se seguirmos essa direção, não me parece tão importante a discussão sobre a fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro, que deverá buscar o equilíbrio entre objetivos esportivos empresariais e mercadológicos.
Duvido muito que no caso concreto brasileiro o consenso entre estas partes esteja no modelo de pontos corridos. Com todo respeito aos contestadores ortodoxos da estrutura de nosso futebol, eu adoro playoffs.

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