São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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CPI tenta encontrar 'chefes' de esquema

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de desvendar a participação de "laranjas" no esquema de venda irregular de títulos públicos, a CPI dos Precatórios agora busca provas para determinar os "chefes" do grupo.
O suposto mentor das operações irregulares, o ex-coordenador da Dívida Pública de São Paulo Wagner Baptista Ramos, prestará um segundo depoimento amanhã e participará de uma acareação com diretores de empresas que movimentaram grandes somas -bancos Vetor e Maxi-Divisa, distribuidora Negocial e corretora Perfil.
"Temos de sair da fase das suspeitas para a das provas. Não adianta a CPI fazer alarido se, depois, a Justiça fizer silêncio, por falta de provas", disse o senador Geraldo Melo (PSDB-RN), vice-presidente da comissão.
Apesar de vários indícios e depoimentos apontarem Wagner Ramos como o "cérebro" das operações, a CPI dispõe de poucas provas materiais contra ele.
Estão comprovados apenas o pagamento de uma comissão de R$ 150 mil do Banco Vetor por "assessoria" na montagem da emissão do governo de Pernambuco e a existência de uma conta nos EUA com saldo acima de US$ 1 milhão.
As demais suspeitas da CPI estão baseadas em depoimentos de supostos "laranjas". Na semana passada, Luiz Calábria e Gérson Martins, diretores da corretora Perfil, afirmaram que Ramos "alugava" a empresa para receber comissões.
Se isso for comprovado, o total recebido por Ramos em comissões salta de R$ 150 mil para cerca de R$ 41 milhões, apenas levando-se em conta as operações de Pernambuco, Santa Catarina e Alagoas.
Outro alvo prioritário da CPI é a distribuidora Negocial, comandada por Fábio Pazzanese Filho e José Priolli. Na semana passada, eles foram acusados de tentativa de suborno pelo proprietário da SMJT, Sérgio Derneka, um dos "laranjas" confessos do esquema.
Em seu depoimento, Derneka disse que recebeu uma proposta de R$ 1 milhão da Negocial para assumir a culpa das irregularidades e fugir do país. O nome da distribuidora também apareceu no depoimento dos donos da Perfil. Calábria e Martins afirmaram ter sido apresentados a Wagner Ramos "pelo pessoal da Negocial".
Devem depor hoje à CPI Fausto Solano Pereira (dono da corretora Boa Safra) e José Pereira de Souza, secretário da Fazenda de Alagoas.
A emissão de títulos de Alagoas, no valor de R$ 301,6 milhões, é a campeã de irregularidades -até documentos foram falsificados para justificar a operação.
Como a lista de envolvidos não pára de crescer, quase todos os senadores admitem que a CPI vai prorrogar seus trabalhos, cujo término estava previsto para 22 de abril. O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), disse ontem que a comissão poderá trabalhar aos sábados e domingos, "se houver necessidade".

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