São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Itália liga PC ao tráfico de drogas sob chefia da máfia

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

A polícia e a Justiça da Itália conseguiram provas de que Paulo César Farias era ligado a uma rede de tráfico de drogas gerenciada pela máfia italiana.
A Folha apurou que investigações sigilosas em andamento na Itália chegaram a comprovantes de depósitos feitos pelo chefe da rede em contas de PC Farias na Europa e nos Estados Unidos.
O nome do traficante é mantido em segredo pela polícia federal italiana para não prejudicar a apuração do caso.
O mafioso está foragido da Justiça e é procurado pela Interpol -polícia internacional. No Brasil, as buscas estão a cargo da Polícia Federal.
A cúpula da Direção Central e Serviço Antidrogas da Itália, que participa das investigações, reuniu-se ontem, em Roma, com o diretor da PF, Vicente Chelotti.
Ele foi à Itália acompanhar de perto as apurações e detalhar um acordo de cooperação no combate ao crime organizado que pode viabilizar a localização e o repatriamento do dinheiro que PC Farias tirou ilegalmente do país.
Chelotti, que deixou Roma ontem, afirmou que foi tratar do acordo de cooperação e negou-se a falar sobre os documentos obtidos pela Justiça da Itália que ligam o tesoureiro de Fernando Collor de Mello ao narcotráfico.
"As investigações nesse campo estão sob sigilo de Justiça. É cedo para fazermos uma avaliação."
O diretor da PF confirmou à Folha, no entanto, que o órgão já trabalhava na apuração de possíveis conexões do empresário alagoano com o narcotráfico.
"É um assunto do qual sempre suspeitamos e que nunca deixou de ser investigado. Agora, com o acordo de cooperação firmado com o governo italiano, é possível obter mais colaboração da polícia italiana sobre o caso", disse.
Documentos
Segundo a Folha apurou, o governo brasileiro irá pedir oficialmente à Justiça italiana que libere os documentos que ligam PC ao narcotráfico -medida prevista em acordo assinado recentemente entre os dois países.
O objetivo da Polícia Federal é anexar essas provas, sob segredo de Justiça, a um inquérito em andamento referente ao Collorgate -o escândalo da rede de tráfico de influência gerenciado pelo tesoureiro do ex-presidente.
A Folha revelou ontem que parte do dinheiro que PC tirou ilegalmente do Brasil está sendo administrado pela máfia da Itália. O fato foi descoberto na apuração sobre narcotráfico e corrupção de autoridades italianas por mafiosos.
As polícias federais da Itália e do Brasil, que trabalham juntas no caso há pelo menos seis meses, ainda não sabem o valor exato dos recursos de PC movimentados pela máfia. Trabalham com um cálculo preliminar de US$ 200 milhões.
O governo brasileiro avalia que as investigações na Itália -resultantes da "Operação Mãos Limpas", que combate o crime organizado- estão avançadas e que existe a possibilidade de se localizar e trazer de volta o dinheiro que PC tirou do Brasil.
Namorada de PC
A PF também recheca fatos relacionados à morte de PC, assassinado em junho do ano passado.
A Polícia Civil de Alagoas, responsável pelo inquérito, concluiu que o empresário foi morto pela namorada, Suzana Marcolino da Silva, que depois teria se matado com um tiro no peito. A PF não aceita essa versão e suspeita de "queima de arquivo".
Um dos pontos conferidos pelos federais é uma viagem à Europa custeada por PC para Suzana, sua irmã, Ana Luíza Marcolino, e o cunhado, um italiano de nome Fabrizio, poucos dias depois de o empresário ter saído da cadeia.
O fato de o cunhado de Suzana ser de origem italiana chamou a atenção dos investigadores da Polícia Federal, que acabaram constatando que se tratava apenas de uma coincidência.

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