São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Inquérito sobre a morte pode ser reaberto

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ; DO ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O juiz Alberto Jorge Correia, da 8ª Vara Criminal da Justiça de Alagoas, deve decidir ainda esta semana sobre o pedido de reabertura das apurações a respeito da morte de Paulo César Farias, o PC.
A promotora Faíldes Mendonça, do Ministério Público estadual, solicitou a realização de um novo laudo e mais investigações sobre o assassinato do empresário.
Cabe ao juiz acatar ou não o pedido. "Caso os agentes federais tragam de Roma informações novas aos autos, determino novas diligências. Por enquanto, as informações do processo, às quais devo me ater, não possuem nenhum indício de que houve queima de arquivo no caso", afirmou Correia à Agência Folha.
O pedido de novas investigações coloca em dúvida o trabalho feito pela Polícia Civil de Alagoas logo após a morte do empresário e da sua namorada Suzana Marcolino.
Inquérito comandado pelo delegado Cícero Torres concluiu que a namorada assassinou PC, tendo cometido suicídio na sequência. O crime teria sido, portanto, de natureza passional.
O delegado mantém a sua conclusão. O assassinato aconteceu na madrugada do dia 23 de junho do ano passado, na casa de praia do tesoureiro de Collor, no bairro de Guaxuma, em Maceió.
Laudo preparado pelo legista Badan Palhares, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), referendou as investigações da polícia alagoana e também apontou a mesma versão para a história.
"Tudo indica que mais uma vez o caso PC vai para a esfera da fantasia. Estão querendo derrubar toda prova técnica colhida por nós e pelos peritos da Unicamp sem ter nenhum dado novo para acrescentar", afirmou o delegado Torres.
Segundo ele, a prova de que PC envolveu-se com a máfia "em nada muda o resultado do inquérito que foi de crime foi passional".
No seu pedido à Justiça, a promotora solicita que o legista alagoano George Sanguinetti seja incorporada à equipe que faria um novo laudo. O grupo seria composto ainda por peritos de importantes universidades brasileiras.
Primeira pessoa a contestar publicamente o trabalho da polícia de Alagoas e de Badan Palhares, Sanguinetti estava eufórico ontem com a revelação de que a máfia italiana poderia ter ligações com o assassinato de PC Farias.
"Foi um serviço de profissional, com requinte, incluindo a montagem do cenário falso da morte", disse. Saguinetti vai lançar ainda este mês um livro sobre o crime.
Os parentes de Suzana Marcolino em Alagoas rejeitam falar sobre o assunto no momento. Eles dizem que temem prejudicar a família.
A maior preocupação é o fato de Ana Luiza, irmã de Suzana, morar atualmente na Itália.
Em Brasília
Em Brasília, a Procuradoria Geral da República deverá anexar as novas investigações da PF ao inquérito 113/92, o chamado "inquérito-mãe" que apurou o funcionamento do esquema PC.
Seis procuradores vão retomar esta semana a análise do inquérito, que tem 267 mil páginas.
Segundo o procurador José Elaeres Teixeira, será possível obter a devolução do dinheiro se a PF conseguir comprovar que resulta das atividades criminosas praticadas por PC no Brasil.
Já o procurador Odim Ferreira, responsável pela análise de inquéritos relacionados com o esquema PC, é reticente quanto às novas investigações. "Talvez tenha havido apenas o uso do doleiro comum para a lavagem de dinheiro sujo tanto pela máfia como por PC."

Colaborou a Sucursal de Brasília

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