São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Comércio vende menos que no 'pico' de 95

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Preocupado com a possibilidade de medidas de contenção de consumo, o comércio evita ênfase na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Sobre o desempenho daquele período, considerado fraco, o faturamento deve crescer 6,76%.
Esse "aquecimento" poderia acender o sinal amarelo em Brasília, onde a equipe econômica tenta avaliar se a economia precisa ou não de algum freio para não ameaçar a estabilidade dos preços.
A Federação do Comércio do Estado de São Paulo prefere medir o desempenho também em relação ao início de 1995. Neste caso, o faturamento deve cair 7,89%.
"A comparação mais correta é a realizada com os primeiros três meses de 1995 -período anterior às medidas de contenção do crédito", diz Mônica Hage, economista da federação.
"O consumo que houve neste início do ano foi puxado pelas fortes promoções", acrescenta ela.
Assim, na sua análise, "não há razão para que o governo fique tão ansioso por algum controle da economia".
Os economistas da federação prevêem para este mês faturamento 12% maior do que o de fevereiro. Tradicionalmente, o crescimento é de 15,3%. A expectativa é de aumento de 4,5% com relação ao mesmo mês do ano passado.
Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da federação, diz que uma ou outra grande rede de lojas estão registrando aumentos surpreendentes de vendas, mas que esse desempenho não pode ser estendido para todo o comércio.
"Os lojistas que facilitam o pagamento para o consumidor estão indo bem. Quem não tem preço e não dá prazo de pagamento não está vendendo."
Borges diz que uma prova de que o consumo não está eufórico é a redução de preços verificada no comércio na primeira semana deste mês -de 0,94%. "Se o consumo estivesse aquecido, os preços não estariam caindo."
SPC e Telecheque
O número de consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) do dia 1º a 9 deste mês cresceu 36,9% sobre o de igual período do ano passado e 8,6% sobre o de igual período de fevereiro.
O SPC, serviço da Associação Comercial de São Paulo, dá uma idéia da procura pelo crediário. Para Marcel Solimeo, economista da ACSP, o consumo está estável.
A procura pelo Telecheque, outro serviço da associação, termômetro das vendas à vista, cresceu 8% nos primeiros nove dias deste mês na comparação com igual período do ano passado e 7,6% sobre igual período de fevereiro.
"O crescimento sobre 1996 não é expressivo porque a base de comparação é fraca. Não há explosão de consumo. São as promoções que movimentam o comércio."
Segundo ele, os estoques das lojas ainda estão um pouco acima do desejado. As compras da indústria, portanto, estão num ritmo mais lento.
Indústria
Boris Tabacof, diretor do departamento de economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que a produção da indústria está praticamente estabilizada desde o segundo semestre do ano passado.
"Há pequenas oscilações. Não há sinais de aquecimento." Em janeiro, lembra ele, o ritmo de atividade das fábricas foi de 10% a 11% maior do que o registrado em igual período de 1996 porque a base de comparação é fraca.
Tabacof diz que a indústria de bens duráveis foi quem puxou o ritmo de atividade das fábricas a partir do segundo semestre de 1996. "A recuperação ficou muito em cima do crédito de longo prazo oferecido ao consumidor. Não vejo nada que possa promover um superaquecimento da economia."

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