São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Novo presidente quer 'moralizar' acordos

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO A FLORIANÓPOLIS

As irregularidades em contratos de trabalho no Figueirense chegam à média anual de nove, incluindo atletas e comissão técnica.
A afirmação é de José Carlos da Silva, presidente da agremiação desde 15 de janeiro.
Ele diz que a prática é generalizada, mas está empenhado em "moralizar" o clube. Assegura que todos os tributos são pagos agora de acordo com a remuneração real.
Silva ainda está calculando a dívida total do Figueirense. O cálculo parcial chega a R$ 1,9 milhão.
(MM)
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Folha - É comum o clube declarar um salário e pagar mais ao atleta?
José Carlos da Silva - Eu quero que tu digas que o Figueirense é exemplo disso. No dia em que eu assumi, proibi.
Folha - Mas antes não era assim. A Folha teve acesso a duas "cartas-compromisso".
Silva - Eu denunciei todas essas irregularidades ao Ministério Público. São práticas que não condizem com a nova realidade do país.
Folha - O que o clube ganhava com elas?
Silva - Essas situações prejudicam os próprios clubes. O nosso zagueiro Julimar se machucou. Se o salário dele estivesse correto na carteira profissional, o Figueirense o teria colocado na Previdência.
Como ele não estava com o salário correto na carteira, eu estou completando o salário por fora. O prejuízo é do clube.
Folha - Qual é a situação financeira do Figueirense?
Silva - O problema hoje são os custos do futebol. A renda de domingo retrasado foi de R$ 80 mil. Era toda nossa, pois éramos os mandantes. Para o clube, sobrou só R$ 43 mil.
A Previdência levou R$ 8.029. O FGTS, R$ 2.850, para pagamento de dívida. A Federação Catarinense, R$ 8.000, por dívidas. É difícil.
Folha - Qual é a dívida do clube?
Silva - Ainda estou levantando esses números, mas hoje o Figueirense deve em torno de R$ 1,9 milhão, incluindo fornecedores, INSS, FGTS, Receita Federal, tudo. Mas as dívidas estão renegociadas.
Folha - O clube foi multado recentemente pela Receita?
Silva - Sim, há dois anos, porque não estava recolhendo nada. Como nossos salários são pequenos, em média 20 mínimos (R$ 2.240), a dívida é de R$ 100 mil.
Folha - A multa e a dívida consideram os vencimentos com os valores registrados em carteira?
Silva - Sim. Há cinco anos não se prestava contas no Figueirense. Cada um levava uma pasta debaixo do braço, e um abraço.
Folha - Se a Receita descobrir os vencimentos reais, o clube terá de recolher a parcela do IR?
Silva - Sim, o clube, e não o funcionário. Eu tive problemas com vários jogadores que me pediram para não colocar na folha, mas todos estão registrados. Se o clube vai ter condições de recolher encargos é uma situação, mas, declarar para o Fisco, é obrigação.
Folha - Como o clube chegou à penúria atual?
Silva - O problema é a irresponsabilidade dos dirigentes. Num ano, o clube contratou 50 profissionais, pagando salários fora da realidade, se comprometendo e levando de barriga.
Folha - E assim chegou às tais "cartas-compromisso".
Silva - Por que os clubes fazem isso? Hoje pagam taxas absurdas. Pagamos R$ 30 mil só para registrar atletas este ano. Os clubes vivem para pagar taxas. Um árbitro cobra R$ 2.000 por 90 minutos.

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