São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Grupo Galpão lota praça em Tiradentes

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Anteontem, Molière invadiu sem timidez o interior de Minas Gerais. A estréia do mais novo espetáculo do grupo Galpão, "Um Molière Imaginário" -adaptação de "O Doente Imaginário", última peça escrita pelo dramaturgo francês- lotou a praça das Mercês de Tiradentes no sábado passado.
Apesar do atraso de quase uma hora, provocado pela chuva que caiu sobre a cidade, o público foi conferir em peso a hipocondria de Argan, o protagonista.
A montagem, que comemora os 15 anos da companhia, se apresenta nos dias 13 e 14 deste mês no Festival de Teatro de Curitiba.
Celebrizado por peças como "Romeu e Julieta", o Galpão arrancou sonoras gargalhadas da platéia, ecleticamente formada por adultos e crianças, turistas e moradores da região.
"Gostei demais", disse a doméstica Josefa Pereira da Silva. Divertindo-se com a sátira aos doentes, o médico José Nascimento ressaltou a importância do teatro de rua.
Ao mostrar a história do hipocondríaco Argan, sua mulher interesseira e sua filha apaixonada, o Galpão manteve as características populares do grupo: muita música, figurinos coloridos -inspirados no pintor Marc Chagall- e elementos circenses.
Unindo-se à estrutura do texto original, "Um Molière Imaginário" também o mesclou a Machado de Assis e seu "Memórias Póstumas de Brás Cubas".
A nova versão levou para o palco o próprio Molière, que às vezes entrava em cena para dialogar com Argan e para contar às pessoas passagens de sua vida.
"Isso não revela preocupação em ser didático. Nosso objetivo era emocionar e divertir o público", disse o diretor, Eduardo Moreira.
Mas ele concorda que espetáculos como esse acabam ensinando o espectador. "Quando estávamos arrumando o palco, um morador de Tiradentes me perguntou o que era Molière."
Entre um diálogo e outro, a montagem se recheia de canções, executadas pelos 11 atores, que variam do tango à ópera: "Com essa mistura de estilos, demos um tom brasileiro à apresentação".
Problemas com o som, a quantidade excessiva de pessoas presentes e até cachorros que invadiram o espaço cênico prejudicaram um pouco o curso da peça.
Para Moreira, tudo isso faz parte da proposta do teatro de rua. Assim como os artistas foram generosos em se apresentar, a platéia deve ser generosa com os imprevistos, segundo o diretor.
No Festival de Curitiba, "Um Molière Imaginário" será exibido em um teatro tradicional. "O público vai participar menos, mas a linguagem estética ficará enriquecida", garante Moreira.

A jornalista Erika Sallum viajou a convite do grupo Galpão

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