São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
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Mostra discute relação entre obra e espaço

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A discussão que os jovens curadores Martin Grossmann e Luciana Brito propõem com a mostra "Ao Cubo", que será aberta hoje na Paço das Artes, não é nova. E eles sabem disso.
"Ao Cubo" pretende discutir o papel ideológico de um espaço supostamente neutro -o cubo branco- em relação à obra de arte a partir dos pressupostos teóricos levantados por Brian O'Doherty em seu livro "Inside the White Cube - The Ideology of the Gallery Space", compilação de uma série de artigos seus publicados na revista "Art Forum" nos anos 70.
A discussão sobre a transgressão do espaço da arte não era nova nem para O'Doherty. A partir dos anos 10, os dadaístas -principalmente Duchamp (1887-1968)- questionaram o próprio conceito de arte a partir de sua relação com o meio e com o espectador e tornaram essa relação uma condição para a produção artística.
Os dois curadores escolheram então nove artistas que retomam essa discussão do espaço onde a obra se insere. Cada um comparece com duas obras, sendo que uma foi produzida especialmente para a mostra e estabelece um diálogo com a curadoria.
As obras serão dispostas ao largo do Paço, em torno de um cubo branco perfeitamente iluminado, simulação do dito espaço ideal para a arte.
Segundo os curadores, a opção por artistas de várias gerações, emergentes ou veteranos, pretende mostrar que a questão tem perpassado a arte brasileira em vários momentos. O amplo leque das possibilidades, porém, dilui a tese da curadoria em vez de evidenciar qualquer amarração.
Valem destaques individuais, como Regina Silveira, uma das maiores e mais elegantes transgressoras do conceito de espaço em arte. A artista repropõe em um painel fotográfico seu biscoito "Arte", de 1976, e apresenta a inédita "Desaparência".
"Arte", o biscoito, deverá ainda se materializar, para logo se desmaterializar, ao ser fabricado e servido junto com o café do Paço.
Em "Desaparência", Silveira constrói no chão e na parede a ilusão de uma prancheta de artista com uma série de linhas pontilhadas. Em geometria, a linha pontilhada determina um espaço ou objeto que não existe, mas apenas seu conceito.
Outro destaque é Lúcia Koch, que dialoga com Silveira ao apresentar duas projeções de luz e cor que só se evidenciam e se transformam a partir da interferência do visitante.

Mostra: Ao Cubo (pinturas, instalações, projeções, objetos, esculturas, fotografias etc.)
Artistas: Ana Maria Tavares, Carlos Fajardo, Daniel Acosta, Iran do Espírito Santo, Júlio Plaza, Lúcia Koch, Monica Nador, Nelson Leiner e Regina Silveira Curadores: Martin Grossmann e Luciana Brito
Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, tel. 011/813-3627, Cidade Universitária)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: de segunda a sexta, das 13h às 20h; sábado, das 9h às 13h; até 6 de abril

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